sexta-feira, 8 de novembro de 2024

As ferramentas perdidas da aprendizagem (Dorothy Sayers)

Ando sentindo falta de publicar aqui no blog, mas a verdade é que ando meio sem ideias do que postar.

Eu estou fazendo o último estágio obrigatório da faculdade (graças a Deus) e, para aproveitar o ensejo, ando lendo bastante sobre educação, história da educação e métodos de ensino. Gosto muito de estudar sobre esses assuntos, então achei que seria legal compartilhar um pouco do que venho lendo e aprendendo por aqui. Ok, é uma resenha (eu acho).

Tem sido muito legal me dedicar mais a este tipo de leitura justamente nesta época do estágio porque consigo ver na prática como certas teorias pedagógicas, em grande parte das vezes, não encontram pouso na realidade. 


Neste artigo, a Dorothy nos explica muitas coisas, mas gostaria de fazer algumas pontuações. Primeiro: ela nos mostra como a educação tida como clássica possuía uma organização embasada na estrutura da realidade como ela realmente é e, em paralelo, ela nos mostra como estas ferramentas, justamente as que foram perdidas, foram aniquiladas na educação atual e substituídas por um grande nada. Ela também nos apresenta possibilidades e exemplos de como continuar a ensinar de maneira mais estruturada: nos mostra as três primeiras Artes Liberais (chamadas de Trivium: Gramática, Dialética e Retórica) dentro de três fases do desenvolvimento infantil, ou seja, como estimular tais potencialidades na criança de acordo com a fase de seu desenvolvimento:

Tabela feita por mim.


















O que ficou bem marcante durante a minha leitura do artigo foi a possibilidade real que temos de ajustar a nossa forma de aprender e ensinar com bons exemplos retirados da História. Não podemos copiar e colar eventos, procedimentos ou circunstâncias passadas no nosso presente, mas podemos (e devemos) recorrer ao passado em busca de bons exemplos e bons conselhos.

Vale mencionar que a Dorothy faz uma readaptação da aplicação do Trivium já que na Idade Média o currículo funcionava de forma bem diferente: estas Artes eram aprendidas antes de se ingressar no Ensino Superior (por volta dos 14 aos 20 anos): tanto o Trivium quanto o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Cosmologia) compunha os conhecimentos tidos como basilares para demais áreas, que no caso poderiam ser três: Medicina, Teologia ou Direito. Portanto as Artes Liberais, na verdade, eram como ferramentas que preparavam o educando para qualquer matéria que poderia surgir posteriormente. Portanto, os 7 componentes das Artes Clássicas ensinam o aluno a aprender: eram anos de preparação antes de chegar propriamente nos conteúdos específicos.

Por isso digo readaptação: hoje, a realidade é bem diferente. Vivemos na sociedade do ensino compulsório e em massa. As crianças precisam estar nas instituições escolares desde a mais tenra idade quando ainda, na maioria das vezes, nem sabem lidar com estruturas básicas de linguagem. As coisas hoje são bem mais rápidas, não há tempo para aprender como lidar com o mundo pois somos jogados nele desde pequenos. O problema é que a realidade pode ser confusa e disforme se não entendermos a sua ordem, a sua estruturação. 

E é neste momento que surge essa necessidade de reformularmos bons exemplos conforme a nossa realidade. É justamente isso que a Dorothy faz: ela oferece aos pais e aos professores uma maneira de extrair o melhor que cada fase pode oferecer. É como transformar os limões em limonadas: podemos aproveitar o que viria a ser um obstáculo como material a ser trabalhado. 


No fim, veio à tona algo que aprendi com Santa Edith Stein: o professor deve reconhecer potencialidades adormecidas em cada aluno afim de propiciar o melhor ambiente para que este de se desenvolva.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Impressões sobre Jane Eyre de Charlotte Brontё

Após finalizar a leitura de A morte de Ivan Ilitch do Tolstói, eu senti vontade de ler algo mais leve para compensar a pedrada que foi esse livrinho que havia escolhido despretensiosamente. Acontece que depois me questionei: algo leve pode surgir do convulsionado século XIX? Ouso dizer que não. Sem me dar conta acabei pousando novamente no mesmo século, mas só voltei algumas décadas. 

A minha vontade de ler um romance romântico foi sim saciada com Jane Eyre, mas eu não esperava encontrar aqui um colosso como este: a surpresa foi contínua até a última página até porque eu iniciei a minha leitura sabendo somente de duas coisas: 1) era um dos livros favoritos de uma amiga e 2) eu encontraria algum romance ali. Mas, para minha surpresa, o livro me apresentou muito mais do que eu poderia tentar imaginar. Confesso que a capacidade imaginativa das irmãs Brontё me causa uma leve inveja. DE ONDE SURGEM ESSAS IDEIAS? Se alguém souber, por favor, me conte.

Quando decidi que leria Jane Eyre, fui logo pesquisar qual das edições disponíveis seria a escolhida. Dei uma rápida olhada e acabei comprando a que estava mais barata e na promoção: a da Zahar. Comprei por R$ 44,00 na primeira quinzena de setembro (deixo aqui a informação detalhada assim caso alguém queira ler e esteja pesquisando os preços). Pois bem, tenho algumas ressalvas.


Primeiro que a edição é de ótima qualidade: encadernação ótima, capa dura (o que torna o livro pouco maleável), boa diagramação, folha amarela e notas! As notas aqui se tornam muito importantes já que o repertório e imaginário da Charlotte não é brincadeira: sem as notas um leitor comum não consegue acompanhar as referências feitas ao longo da narrativa. Ou seja: é importante considerar. Parece que a edição atual da Penguin não tem notas, mas não tenho certeza. Agora sim, minhas ressalvas. Primeiramente: não gostei da capa. Segundo: que texto introdutório horripilante. 

Aproveito o ensejo para comentar sobre algo que, posteriormente, se mostrou importante na discussão sobre o enredo da obra. As releituras e críticas recentes apresentam uma nova roupagem para a personagem da Jane: uma roupagem feminista. Não vou discutir sobre o assunto aqui porque não tenho propriedade para opinar sobre, mas posso sim dizer que vejo essa reinterpretação da obra como uma espécie de cegueira. Cegueira por parte dos que tentam analisar a narrativa sob uma perspectiva, ao que tudo indica, inexistente. Até me lembrei agora de uma parte marcante no início do livro: “De todo modo, porém, sentia que Helen Burns considerava as coisas sob uma luz invisível aos meus olhos." (página 76)

Conforme a história vai avançando fica bem evidente que luz invisível é essa: a luz que somente a Graça pode nos proporcionar. 


O caminho que Jane realiza durante as páginas é o caminho de amadurecimento pelo qual todos deveriam se submeter: das desgraças e infelicidades à compreensão real do sofrimento e do sacrifício. Caminho este que não pode ser entendido plenamente sem os olhos da fé, pois sim: acredito que este seja um romance de teor profundamente cristão. Charlotte Brontё realiza tal façanha em um dos séculos mais descrentes da história humana, portanto, se torna até compreensível que as entrelinhas não sejam compreendidas.

Àqueles que não são iluminados pela luz invisível, pode parecer loucura o que Jane faz ao fim da narrativa: tão loucura quanto o que Abrãao decide fazer quando Deus o pede que sacrifique seu filho, Isaque.

Eu nunca havia lido um romance de formação (são romances mais extensos que acompanham a personagem durante anos de sua vida), e uma das coisas que mais gostei foi justamente a profundidade no desenvolvimento da personalidade da protagonista. No caso da Jane isso se torna ainda mais interessante porque as características da personagem são um dos pontos principais aqui: acompanhamos uma personagem forjada em situações extremas, sejam psicológicas ou circunstanciais, desde a infância até os anos mais maduros. 

Jane Eyre tinha tudo para se tornar amargurada, à semelhança de sua tia, mas certas influências a ajudam a seguir por outro caminho: o do perdão e o da vida dedicada ao serviço, características estas que são maravilhosamente trabalhadas nos anos da juventude de Jane e que refletem profundamente a natureza feminina que se torna ainda mais vívida no fim do livro.

Jane deseja, a todo instante, ser útil e utilizar seus dons e aptidões em serviço do próximo, o que, aliás, se torna perceptível várias vezes no decorrer da narrativa.

Uma das genialidades da Charlotte foi trazer a questão da ociosidade feminina a qual as mulheres estavam imersas na cultura europeia da Modernidade, ociosidade esta que fica extremamente aparente nos livros da Jane Austen, por exemplo. O que torna Jane Eyre tão diferente das outras personagens femininas dos romances, até o momento, foi a sua reação a tal ociosidade: Jane não se submete à inatividade tão comum às mulheres daquela época. Mesmo quando a protagonista encontra uma situação confortável na qual poderia se acomodar, ela não cruza os braços achando que já havia feito tudo o que poderia: ela deseja mais, deseja se doar mais, deseja amar mais. Jane Eyre nos exemplifica uma vida de serviço, sacrifício e, principalmente, obediência a Deus.

A própria personagem reconhece que tal inatividade era totalmente danosa a si mesma quando afirma: “Eu não podia evitar: a inquietude estava em minha natureza, e às vezes me agitava a ponto de me causar sofrimento". E toda essa reflexão me fez lembrar de uma página que li há mais de dois anos onde Santa Edith Stein, a grande filósofa do século XX, nos ensina que o maior e melhor remédio contra as imperfeições femininas é o TRABALHO, que nos afasta da individualidade e da superficialidade. E talvez seja isso que aconteça nos livros da Jane Austen 😅.

No fim, Jane só queria encontrar a sua vocação individual na Terra, só queria dotar a sua vida de sentido, e por isso penso que todos nós podemos nos identificar um pouco com ela.

Ah... como é maravilhoso encontrar um novo livro favorito! Mas como é triste saber que nunca mais poderei o ler pela primeira vez...


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Primeiros dias da primavera

Eu gosto muito da virada do inverno para a primavera. 

Aqui no Centro-Oeste (em Brasília, pelo menos) nós só temos duas estações bem definidas - verão chuvoso e inverno seco -, apesar disso, sinto que o tempo realmente muda na transição entre as duas estações. Em setembro temos o mês mais quente e seco, mas quando outubro se aproxima a natureza vai mudando e a chuva vem chegando. 

Estamos a uns 160 dias sem chuva, todo ano é a mesma coisa. Ficamos bem felizes quando os primeiros pingos chegam em outubro por aqui. Eu amo dias chuvosos, eles são especiais e têm uma beleza diferente dos outros. Sinto falta da chuva.

Nesse ano, o que mudou um pouco por aqui foram a gravidade das queimadas. De certa forma nós já estamos um tanto quanto acostumados com aquele cheiro da mata pegando fogo porque acontece todos os anos ao redor. Porém, nas últimas semanas foi bem mais intenso e grave. Vimos uma névoa espessa e amarelada que cobriu o céu de Brasília por dias.

Agora, parece que o calor está indo embora bem aos poucos. Estou bem ansiosa pela chuva.
Estes registros foram feitos nestes primeiros dias de primavera (que começou no domingo, dia 22) com uma câmerazinha digital aqui de casa. Quando passei para o computador fiquei surpresa com a qualidade das fotos.

O pé de morangos aqui de casa nunca esteve tão saudável e feliz. Os morangos não crescem tanto por alguma razão que desconhecemos, mas eles têm se multiplicado a cada dia. Já usamos para enfeitar um bolo de cenoura e para comer no café da manhã com panqueca. Eles são uma gracinha e espero que fiquem vivos por bastante tempo.

Eu fico muito impressionada em como as cores da natureza se complementam. A diversidade das cores também é impressionante. Esse verde das folhas é surreal de lindo, sem dúvidas uma das minhas cores preferidas.

Eu também quis redecorar meu quadro de cortiça com coisas relacionadas à primevera. Ficou assim:

Minha mesa também foi alvo da câmera digital. Estas são as minhas leituras do momento. Aquele urso lendo ali foi um marca-páginas que fiz ontem! O saquinho de coelho feito pela minha amiga também é pura primavera. Estou amando Jane Austen e uma das minhas coisas preferidas tem sido as descrições da natureza.

Sigo confirmando a minha teoria de que o segundo semestre do ano sempre passa mais rápido do que o primeiro. Ja já estamos comemorando o Natal, mas enquanto isso quero aproveitar os dias como eles são. A cada dia basta o seu cuidado e atenção.








Até mais!