sexta-feira, 8 de novembro de 2024
As ferramentas perdidas da aprendizagem (Dorothy Sayers)
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
Impressões sobre Jane Eyre de Charlotte Brontё
Após finalizar a leitura de A morte de Ivan Ilitch do Tolstói, eu senti vontade de ler algo mais leve para compensar a pedrada que foi esse livrinho que havia escolhido despretensiosamente. Acontece que depois me questionei: algo leve pode surgir do convulsionado século XIX? Ouso dizer que não. Sem me dar conta acabei pousando novamente no mesmo século, mas só voltei algumas décadas.
A minha vontade de ler um romance romântico foi sim saciada com Jane Eyre, mas eu não esperava encontrar aqui um colosso como este: a surpresa foi contínua até a última página até porque eu iniciei a minha leitura sabendo somente de duas coisas: 1) era um dos livros favoritos de uma amiga e 2) eu encontraria algum romance ali. Mas, para minha surpresa, o livro me apresentou muito mais do que eu poderia tentar imaginar. Confesso que a capacidade imaginativa das irmãs Brontё me causa uma leve inveja. DE ONDE SURGEM ESSAS IDEIAS? Se alguém souber, por favor, me conte.
Quando decidi que leria Jane Eyre, fui logo pesquisar qual das edições disponíveis seria a escolhida. Dei uma rápida olhada e acabei comprando a que estava mais barata e na promoção: a da Zahar. Comprei por R$ 44,00 na primeira quinzena de setembro (deixo aqui a informação detalhada assim caso alguém queira ler e esteja pesquisando os preços). Pois bem, tenho algumas ressalvas.
Primeiro que a edição é de ótima qualidade: encadernação ótima, capa dura (o que torna o livro pouco maleável), boa diagramação, folha amarela e notas! As notas aqui se tornam muito importantes já que o repertório e imaginário da Charlotte não é brincadeira: sem as notas um leitor comum não consegue acompanhar as referências feitas ao longo da narrativa. Ou seja: é importante considerar. Parece que a edição atual da Penguin não tem notas, mas não tenho certeza. Agora sim, minhas ressalvas. Primeiramente: não gostei da capa. Segundo: que texto introdutório horripilante.
Aproveito o ensejo para comentar sobre algo que, posteriormente, se mostrou importante na discussão sobre o enredo da obra. As releituras e críticas recentes apresentam uma nova roupagem para a personagem da Jane: uma roupagem feminista. Não vou discutir sobre o assunto aqui porque não tenho propriedade para opinar sobre, mas posso sim dizer que vejo essa reinterpretação da obra como uma espécie de cegueira. Cegueira por parte dos que tentam analisar a narrativa sob uma perspectiva, ao que tudo indica, inexistente. Até me lembrei agora de uma parte marcante no início do livro: “De todo modo, porém, sentia que Helen Burns considerava as coisas sob uma luz invisível aos meus olhos." (página 76)
Conforme a história vai avançando fica bem evidente que luz invisível é essa: a luz que somente a Graça pode nos proporcionar.
Àqueles que não são iluminados pela luz invisível, pode parecer loucura o que Jane faz ao fim da narrativa: tão loucura quanto o que Abrãao decide fazer quando Deus o pede que sacrifique seu filho, Isaque.
Eu nunca havia lido um romance de formação (são romances mais extensos que acompanham a personagem durante anos de sua vida), e uma das coisas que mais gostei foi justamente a profundidade no desenvolvimento da personalidade da protagonista. No caso da Jane isso se torna ainda mais interessante porque as características da personagem são um dos pontos principais aqui: acompanhamos uma personagem forjada em situações extremas, sejam psicológicas ou circunstanciais, desde a infância até os anos mais maduros.
Jane Eyre tinha tudo para se tornar amargurada, à semelhança de sua tia, mas certas influências a ajudam a seguir por outro caminho: o do perdão e o da vida dedicada ao serviço, características estas que são maravilhosamente trabalhadas nos anos da juventude de Jane e que refletem profundamente a natureza feminina que se torna ainda mais vívida no fim do livro.
Jane deseja, a todo instante, ser útil e utilizar seus dons e aptidões em serviço do próximo, o que, aliás, se torna perceptível várias vezes no decorrer da narrativa.
Uma das genialidades da Charlotte foi trazer a questão da ociosidade feminina a qual as mulheres estavam imersas na cultura europeia da Modernidade, ociosidade esta que fica extremamente aparente nos livros da Jane Austen, por exemplo. O que torna Jane Eyre tão diferente das outras personagens femininas dos romances, até o momento, foi a sua reação a tal ociosidade: Jane não se submete à inatividade tão comum às mulheres daquela época. Mesmo quando a protagonista encontra uma situação confortável na qual poderia se acomodar, ela não cruza os braços achando que já havia feito tudo o que poderia: ela deseja mais, deseja se doar mais, deseja amar mais. Jane Eyre nos exemplifica uma vida de serviço, sacrifício e, principalmente, obediência a Deus.
A própria personagem reconhece que tal inatividade era totalmente danosa a si mesma quando afirma: “Eu não podia evitar: a inquietude estava em minha natureza, e às vezes me agitava a ponto de me causar sofrimento". E toda essa reflexão me fez lembrar de uma página que li há mais de dois anos onde Santa Edith Stein, a grande filósofa do século XX, nos ensina que o maior e melhor remédio contra as imperfeições femininas é o TRABALHO, que nos afasta da individualidade e da superficialidade. E talvez seja isso que aconteça nos livros da Jane Austen 😅.
No fim, Jane só queria encontrar a sua vocação individual na Terra, só queria dotar a sua vida de sentido, e por isso penso que todos nós podemos nos identificar um pouco com ela.
Ah... como é maravilhoso encontrar um novo livro favorito! Mas como é triste saber que nunca mais poderei o ler pela primeira vez...
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Primeiros dias da primavera
Estamos a uns 160 dias sem chuva, todo ano é a mesma coisa. Ficamos bem felizes quando os primeiros pingos chegam em outubro por aqui. Eu amo dias chuvosos, eles são especiais e têm uma beleza diferente dos outros. Sinto falta da chuva.
O pé de morangos aqui de casa nunca esteve tão saudável e feliz. Os morangos não crescem tanto por alguma razão que desconhecemos, mas eles têm se multiplicado a cada dia. Já usamos para enfeitar um bolo de cenoura e para comer no café da manhã com panqueca. Eles são uma gracinha e espero que fiquem vivos por bastante tempo.