Depois de um bom tempo apareci por aqui com uma resenha :)
Nos últimos meses reduzi bastante a minha frequência de leituras por motivos de trabalho e últimos meses de graduação (yay!), mas em setembro decidi reler Cartas a Theo, já que tinha comprado no sebo uns meses atrás e que havia acabado de ler "Cartas a um Jovem Poeta" do Reiner Maria Rilke (que, aliás, não me agradou tanto), então peguei o embalo e li dois livros epistolares neste ano.
Eu já havia lido Cartas a Theo em 2023, pelo Kindle, mas sem muita prentensão. O interesse pela figura do Van Gogh surgiu a um tempo pela presença dele na cultura visual dos últimos anos (A Noite Estrelada parece fazer parte da cultura pop dos últimos anos ou é coisa da minha cabeça?), mas o interesse pelas cartas em si foi mais recente e não me lembro exatamente como e quando aconteceu, mas de alguma forma cheguei no Van Gogh.
Eu gosto de conhecer mais sobre artistas, suas vidas e processos criativos porque eu me identifico com muitos deles em vários sentidos. No caso do Van Gogh, diria que a minha identificação parte pela sensibilidade que ele transmite. Pelas cartas conseguimos entender que a genialidade dele estava justamente na capacidade de apreciação daquilo que parece banal ou simples demais. Ele admirava grandes pintores e os estudava com paixão, mas a vida o impeliu a pintar coisas que são comuns a todos nós (por mais que não pareçam): a natureza e a luz.
Eu ainda não li a biografia do Van Gogh (na verdade, eu ainda não li nenhuma biografia :(), mas acredito que estas questões devam ficar mais claras com o conhecimento da personalidade dele que, inclusive, parecia muito complexa e conturbada, mas a verdade é que qalquer comentário que eu faça sobre a personalidade dele seria insuficiente ou apenas um palpite, já que as cartas não são suficientes para compreender esse aspecto. Pelo o que entendi, as edições de Cartas a Theo contam com as cartas do Van Gogh para o irmão, somente, ou seja, não temos acesso àquilo que o irmão escrevia. Na verdade, até temos acesso sim, mas as cartas não estão traduzidas (caso alguém por aí fale holandês ou francês, as cartas estão aqui).
Falando nesse site aí, eu AMO quando encontro sites na internet que sejam relacionados à leitura que estou fazendo... existe tanta coisa interessante na internet se a gente conseguir procurar, né? Nesse site eles disponibilizam todas as cartas originais digitalizadas, comentários, explicações e coisas do tipo. Também conseguimos ver os desenhos que o Van Gogh enviava para o irmão (achei isso o máximo!).
| Carta 173 (essa ilustração me lembrou a gravura do Gustavo Doré para o Círculo dos Suícidas na Divina Comédia ↓) |
O que eu não achei o máximo foi a minha edição. Como comentei, comprei no sebo por 25 reais uns meses atrás e é uma edição da década de 70 bem usadinha e com marcas o tempo (o que gosto), mas acontece que a diagramação é horrível. A edição não divide as cartas de um jeito coerente e o que temos são trechos de cartas que não dá para entender quando começam ou terminam. Existe uma enumeração nas cartas que não é explicada em lugar nenhum do livro. Acredito que a edição mais recente do livro corrija tudo isso.
Tirando as intercorrências com a edição, as cartas são muito interessantes, mesmo o livro ficando maçante em determinado momento. Obviamente as cartas são muito pessoais, mas em X momento ficam TÃO pessoais que eu não sabia se deveria estar lendo. Não que tenha algo muito pessoal nas cartas selecionadas do livro, mas em alguns momentos não dá para entender muito bem do que eles estão falando (até porque não existem notas explicativas). De qualquer forma, as cartas trazem trechos e narrações sobre o cotidiano do Van Gogh, a luta contra a fome e a escassez de material para o trabalho, já que o pintor foi sustentado pelo irmão, Theo, que bancava o trabalho do irmão e as necessidades dele como homem e pintor.
Pelas cartas sabemos que: o Van Gogh nasceu em uma família protestante, o pai era pastor; ele tenta seguir os passos do pai, mas não consegue por várias questões; sabemos que ele era um viajante, quase um nômade, já que não ficava muito tempo no mesmo lugar; ele amava ler e durante as cartas ele cita vários livros que estava lendo (amei isso, fiz uma lista com alguns) e também podemos saber que, aos poucos, o Van Gogh foi perdendo a fé em Deus (o que é triste). Ele vai sendo corroído, lentamente, pelas questões mentais e debilidades psicológicas.
Apesar do sofrimento psicológico e da fome, o Van Gogh parecia um homem muito perseverante e determinado. A produtividade dele era impressionante, acredito que ele pintava dezenas de quadros em uma semana. Em vários momentos ele comenta sobre a necessidade do trabalho para o manter são.
Eu queria muito poder colocar várias partes lindas aqui, mas escolhi as minhas favoritas para deixar aqui juntamente com algumas pinturas lindas, interessantes e pouco conhecidas do Van Gogh.
"A vida não nos teria sido dada para enriquecer nossos corações, mesmo quando o corpo sofre?"
| Canteiro de Flores na Holanda (1883) |
"É bom amar tanto quando possamos, pois nisso consiste a verdadeira força, e aquele que ama muito realiza grandes coisas e é capaz, e o que se faz por amor está bem feito."
| Avenida dos Choupos no Outono (1884-85) |
"Preferi a melancolia que espera e que aspira e que busca, àquela que embota e, estagnada, desespera."
| Le Moulin de la Galette (1886) |
"Mas involuntariamente sou levado a crer que a melhor maneira de conhecer Deus é amar muito."
