segunda-feira, 7 de abril de 2025

Vídeo: pequenas atualizações sobre minhas leituras

/#2 diário de preparação para o mestrado (o primeiro diário está aqui)

Oi! Depois de meses apareci para falar um pouquinho sobre as minhas leituras do momento.

Queria conseguir gravar com mais frequência, mas acontece que gravo com o celular e não tenho muito espaço, haha. Talvez a solução seja falar menos para deixar os vídeos mais curtos (muito difícil para uma tagarela como eu :D).

No vídeo citei:

1) Eneida, do Virgílio;
2) Apologia da História: ou o Ofício do Historiador, do Marc Bloch;
3) Artigo: História e Literatura: Algumas Considerações, do Prof. Dr. Valdeci Rezende Borges;
4) Mito e Realidade, do Mircea Eliade.

Vou acabar linkando este post com os diários de preparação para o mestrado já que todas as leituras têm relação com a minha preparação.

Até mais!

terça-feira, 25 de março de 2025

Coisinhas bonitas na mesa

Com o passar do tempo fui diminuindo a quantidade de coisas que deixo na mesa e sempre vou mudando conforme o momento exige. Deixei de me preocupar com o cenário para fotos instagramáveis apesar de que nesse dia aí eu senti minha mesa bem fotogênica e quis registrar.

Minha xícara de passarinho foi pintada à mão por uma tia muito talentosa! 

Sigo tentando encontrar beleza nos meus dias que parecem tão iguais e tão estáticos...






"Eu posso ver o sol, mas mesmo que eu não possa vê-lo, eu sei que ele existe. E saber que ele está lá - isso é viver." (Fiódor Dostoiévski)

domingo, 23 de março de 2025

Resenha: Mito e Realidade de Mircea Eliade

Como havia comentado no meu post anterior, ando fazendo leituras direcionadas ao desenvolvimento do meu projeto para o mestrado. Também havia mencionado este livro do Eliade, que tinha comprado no sebo mês passado. Fiquei super feliz de já ter lido dois dos três livros que comprei nesse dia, haha. Dá uma sensação de dinheiro bem gasto! E foi mesmo: baita livro!

Foi meu primeiro contato com o autor que, até então, eu só conhecia de nome. Sabia que ele tinha trabalhos significantes no assunto Ciência das Religiões, mas agora que tive contato com um de seus livros pude entender a grandiosidade de seus estudos. 


Comprei no sebo por 20 reais essa edição da Perspectiva de 94.

Em Mito e Realidade, o autor romeno nos concede um conceito satisfatório para a ideia de mito e nos apresenta alguns conceitos e questionamentos basilares no que diz respeito à estrutura dos mitos, do pensamento e do comportamento mitológico ao longo da História.

O Mircea Eliade, em vários momentos, deixa transparecer (posso estar errada) que possui uma ideia mais universalista de mitologia no sentido de que ele enxerga várias compatibilidades entre diferentes mitologias dispostas no tempo e espaço, ou seja, ele rastreia características comuns e aproximações entre diversos sistemas mitológicos ao redor do mundo.

Meu capítulo favorito foi o VIII: Grandeza e Decadência dos Mitos.

Durante um bom tempo eu tive dificuldade em entender a diferença entre mitologia & religião e isso porque ambos conceitos nos são apresentados como sinônimos no Ensino Básico. Acontece que a questão não é tão simples quanto parece. O Eliade não comenta sobre isso em Mito e Realidade (pode ser que comente em outra obra), mas outro livro que gosto muito trata do assunto sutilmente: O Homem Eterno, do G.K. Chesterton. Vale dizer que, apesar das similaridades temáticas, ambos livros têm intuitos diferentes: aquele pretende assumir um tom mais acadêmico enquanto este é mais apologético, portanto precisamos compará-los com ressalvas. Como disse: ambos possuem similaridades e em O Homem Eterno, o Chesterton comenta em algumas páginas as diferenças entre mitologia & religião

Eles [os mitos] satisfazem algumas das necessidades de uma religião, principalmente a necessidade de fazer certas coisas em certas datas, a necessidade das ideias gêmeas de festividade e formalidade. Mas, embora deem ao homem um calendário, não lhe dão um credo. (...) Muitos acreditaram em alguns mitos e não em outros, ou mais em alguns e menos em outros, ou então em qualquer um deles, mas apenas num sentido poético muito vago.

Enfim, acabei entendendo que os mitos não são sistematizados suficientemente como as religiões. Grande parte das mitologias é composta por um arcabouço de mitos maleáveis ao longo do tempo e espaço.

Voltando ao livro em questão, deu para perceber que para uma apreensão mais completa do trabalho e das teorias do autor seria preciso ler outras obras das quais ele constantemente cita ao decorrer do livro. Fiquei com muita curiosidade e já coloquei as demais obras na minha lista de futuras compras.

Uma dessas teorias que aparece frequentemente neste livro é a do Eterno Retorno que é explorada e exposta em outro livro de mesmo nome: O Mito do Eterno Retorno (1949). Aqui, em Mito e Realidade, o autor dá umas pinceladas no assunto que tanto me interessa. Dentro da História, no campo de Teoria da História, lidamos com as Filosofias da História que são teorias que visam conceder um sentido teleológico para história, ou seja: para onde a história está nos levando? E qual é o fim dela? Santo Agostinho inaugura esse campo teórico e especulativo com a sua obra monumental A Cidade de Deus

Dentro da comunidade historiográfica essas Filosofias da História acabaram caindo em descrédito por várias razões mas principalmente por acreditarem que estas teorias pertenciam mais ao campo da opinião do que ao campo da ciência (no séc. XIX essa dualidade era muito latente). Vejo esse desprezo como um reflexo da ruptura temporal que assombra as mentes modernas já que não há desejo de continuidade temporal: atualmente quase nunca se olha para o passado.

Porém, como disse, é realmente um fenômeno fruto da mentalidade moderna ocidental e o Eliade nos mostra isso ao recorrer várias vezes à concepção do tempo e da História do homem imerso no pensamento mitológico onde, para este tipo de homem, o tempo é algo reversível: os mitos e a recitação destes permitem uma espécie de volta no tempo. Essa predominância da ciclicidade temporal acaba sendo interrompida com o advento da linearidade presente no judaísmo e posteriormente herdada pelo cristianismo: agora a História é dotada de início, meio e fim. Ao que parece, grande parte das mitologias não se preocupa tanto com o fim da História, com a escatologia. Essa importância passa a ganhar espaço com o advento da religião mosaica. 

Mas o judeu-cristianismo apresenta uma inovação capital. O Fim do Mundo será único, assim como a cosmogonia foi única. (...) O Tempo não é mais o Tempo circular do Eterno Retorno, mas um Tempo linear e irreversível. Mais ainda: a escatologia representa igualmente o triunfo de uma Santa História. (p. 62)

O Eliade também comenta sobre a existência geral da ideia de "perfeição das origens" que pode ser rastreada nas mais variadas culturas. Essa ideia transparece com evidência no comportamento religioso e mitológico: existe uma reverência para com o passado, mais precisamente, para com a origem de tudo:

A renovação ritual da ordem, um dos elementos simbólicos desenvolvidos dentro das civilizações cosmológicas, por exemplo, atravessa toda a história da humanidade (...) porque a queda da ordem da existência e o retorno dessa ordem constituem um problema fundamental da existência humana. (p.50)

E é justamente desta ideia que surge, por exemplo, o Mito das 5 Idades do Hesíodo que buscava tentar explicar a degradação do Homem.


Por fim, gostaria de comentar brevemente sobre um dos assuntos que o autor traz à obra: a dessacralização dos mitos gregos na Grécia Antiga.

Acredito que muitas pessoas que têm contato com mitologia grega já tenham se deparado com alguma frase do tipo: "os gregos não acreditam mais em seus mitos" ou, mais precisamente: "As religiões da Grécia Antiga desapareceram. As chamadas divindades do Olimpo não têm mais um só homem que as cultue, entre os vivos" como escreve o Thomas Bulfinch logo na primeira frase de sua obra O Livro de Ouro da Mitologia. Mas, tá... e aí? Como isso aconteceu? Como uma civilização inteira passa a desacreditar em sua própria mitologia? 

O Eliade dá uma boa pincelada neste assunto e já começa o livro citando Xenófanes (c. 565-470 a.C), o primeiro filósofo a enfrentar o politeísmo grego da época. A partir daí, os mitos passaram a se despojar progressivamente o mythos de seu valor religioso e metafísico. 

Fica bem claro que esse processo tem relação com o advento da Filosofia, tema este que até comentei brevemente no post passado aqui do Blog. Os primeiros filosofos passam a dar mais crédito ao entendimento de uma "'situação primoridial' que precedeu a história." Agora o foco era buscar tentar entender a fonte, o princípio, a arché, aquilo que sustentava todas as coisas. O homem passa, progressivamente, a se ver como centro do Cosmo, como centro da Criação. Agora a necessidade era de entender o mistério do aparecimento do Ser.

Enfim, queria comentar sobre outras questões marcantes do livro, mas percebi que essa resenha está ficando gigante. Espero poder ler mais Mircea Eliade para poder continuar a escrever sobre esses assuntos interessantíssimos. 

Até mais!

"Para o homus religiosos, o essencial precede a existência. (...) O homem é como é hoje porque uma série de eventos teve lugar ab origine [desde a origem]." - Mircea Eliade

domingo, 9 de março de 2025

Notas sobre a Grécia Antiga: geografia, mitologia e leituras do momento

Ainda não tenho o que atualizar no diário de preparação para o mestrado, mas queria compartilhar algumas coisas legais que tenho aprendido na busca pelo tema do meu projeto. Como comentei, minha inclinação inicial me leva para a Grécia Antiga, mas o meu interesse mesmo é a civilização greco-romana/ocidental como um todo. De qualquer forma, vamos iniciar pelo começo, não é mesmo? Até porque essa nomenclatura abrange milênios (rindo de nervoso).

Estou revendo meus estudos sobre a Grécia de quase 2 anos atrás que foi quando tive História Antiga na faculdade. Infelizmente, como quase tudo na faculdade de História, estudamos tudo muito breve e superficialmente, mas agora posso me dedicar ao aprofundamento deste recorte temporal, especificamente.

O que ando lendo: 
1) Mito e Realidade, do Mircea Eliade
2) O universo, os deuses e os homens, do Jean-Pierre Vernant
3) Capítulo "O Homem e as mitologias" de O Homem Eterno, do G.K. Chesterton
4) Trechos de livros e apostilas sobre a história da Grécia


Os três primeiros têm uma característica em comum particular, que é a temática da mitologia. Como comentei, gostaria de estudar algo em que pudesse conjugar educação, mitologia e literatura e esses três primeiros tratam destes três elementos direta ou indiretamente.

Para início de conversa: eu sou meio obcecada por mapas e não poderia deixar isso passar batido. Eu amo estudar com mapas do lado, isso amplia bastante o entendimento histórico. O mapa/a geografia da Grécia é muito interessante por vários motivos, mas diria que, principalmente, por ser um território relativamente pequeno que condensa muitas características "anormais": uma península acidentada e super montanhosa no centro; muitas ilhas minúsculas e outras consideravelmente grandes; a presença imponente de três mares diferentes.

Página do meu caderno (commonplace book?)

É legal considerar que em diversos momentos da História a Geografia se impõe sobre as sociedades - suas culturas, hábitos, organizações, etc - e a história da Grécia nos mostra isso muito bem: os gregos, desde o principio, foram impulsionados para o mar, para a navegação. As cadeias montanhosas no centro da Península isolavam os assentamentos e aldeias. Os mares acabavam sendo as grandes rodovias da Grécia. Inclusive é muito interessante notar a presença da água nos mitos e nas epopeias gregas, e não é à toa que encontramos muitas divindades e entes aquáticos: Poseidon, Têtis, Ponto, Cila e por aí vai.

Outra questão que tem me gerado curiosidade desde o ano passado é uma questão que nos apresentam brevemente no Ensino Médio: o que propiciou o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga? Quais foram os elementos presentes que possibilitaram o progressivo despojamento do pensamento mitológico? Giovanni Reale e Mircea Eliade falam sobre isso. 

Acontece que, lentamente, os homens deixaram de se ver como parte do Cosmo para se enxergarem como centro do Cosmo. Os mitos cosmogônicos, sobre a origem de tudo, não bastavam mais. Era preciso "atingir a fonte primacial de onde jorrou o real, de identificar a matriz do Ser" segundo o Eliade em Mito e Realidade. Em outras palavras: os gregos passaram a desmistificar a própria mitologia, o que não significa que o pensamento mitológico foi abolido. Inclusive, há de se perguntar: o pensamento mitológico pode ser abolido da experiência humana? Alguns dizem que na modernidade isso aconteceu e eu não concordo. Só para complementar: deu para notar que o surgimento das cidades, da pólis, tem influência direta no surgimento do pensamento filosófico.

Enfim, eu não sou estudante de Filosofia, mas me interesso pelo assunto. Infelizmente eu não posso estudar isso com mais profundidade no momento, mas sem dúvidas pretendo voltar para essa questão no futuro. 

Por último, queria comentar sobre o livro 2 da listinha ali de cima. Estou quase terminando e quando finalizar pretendo escrever um pouquinho sobre ele aqui no blog. Até o presente momento posso dizer que estou gostando, mas que não recomendaria não, haha. O Livro de Ouro da Mitologia segue sendo o meu favorito. Nesse livro do Vernant ele narra alguns dos mitos sob uma perspectiva mais simbólica, que me agrada muito, mas para iniciar na mitologia não considero uma boa porta de entrada. Depois falo mais sobre. Apesar das ressalvas o livro traz umas análises e leituras sobre alguns mitos, como o de Prometeu, que valem à pena serem destrinchadas. 

Até mais!

sexta-feira, 7 de março de 2025

#1 Fotos que não quero perder

Tenho certo medo de pensar que posso perder minhas fotos e por isso vou começar a deixar umas aqui no blog (:

7 de fevereiro de 2025.
25 de novembro de 2024.
26 de maio de 2024.
19 de janeiro de 2025.

14 de outubro de 2025.

16 de fevereiro de 2025.

25 de março de 2024.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Resenha: O Idiota de Fiódor Dostoiévski

Depois de 829 páginas e 2 meses e meio finalizei o maior livro que li até hoje, mas isso não importa muito não.

Só queria deixar registrado que: eu fiquei com muita vontade de ler este livro durante um ano inteiro e quando finalmente pude comprá-lo, fui com muita sede ao pote para poder ler. Mas, aconteceu que as 829 páginas se tornaram mais longas do que já são e, consequentemente, minha leitura se estendeu por longos 2 meses e meio. Eu não estava esperando que isso fosse acontecer e acabei me frustrando um pouco.

Este foi o meu primeiro calhamaço do Dostô e russo também. Eu já havia lido obras menores do autor e a minha preferida continua sendo Memórias do Subsolo que, aliás, já comentei brevemente por aqui também. Claramente não recomendaria O Idiota caso você esteja querendo começar a ler Doistoiévski. Acredito que Noites Brancas ou Gente Pobre sejam boas portas de entrada, mas O Idiota definitivamente não entra nesta lista (na minha opinião).

Isso porque o ritmo é lentíssimo e, por vezes, quase imóvel. A quantidade de personagens e visitas à casa de terceiros parecia interminável, tanto que procurei por ajuda para conseguir entender as relações entre os 350 personagens (sem contar os nomes russos que pelo amor de Deus) e encontrei um mapa dos personagens no Reddit que me ajudou bastante!

Mas eu não quero ficar só reclamando. O livro tem sim seus altos e baixos, sendo que as partes altas da narrativa são bem memoráveis. 

Em O Idiota, somos apresentados a Míchkin, nosso protagonista, que após longos anos de reabilitação nas montanhas verdejantes da Suíça, volta à Rússia, sua terra natal. Acontece que Míchkin, ou o Idiota, recebeu tal apelido por conta de seu comportamento peculiar já que era bonzinho demais (com o decorrer da narrativa nos questionamos: a bondade é fruto do estado epilético de Míchkin ou não?). Ao chegar na Rússia, Míchkin é apresentado, aos poucos, à rede de personagens que acompanhamos na longa trama. O Príncipe, como também é chamado, se choca com a realidade de decadência moral da qual, até então, não tinha tanto contato. Conhecemos outros personagens significativos para Míchkin, como Nástassia e Agláia, que acabam por formar um triângulo amoroso com Míchkin, e Rogójin, um homem extremamente soturno e misterioso, que também compartilha de um mesmo interesse com o Príncipe. Interesse este que, de certa forma, levará ambos à ruína. 

O enredo, à primeira vista, pode ser tido como simples. Mas conforme os capítulos vão passando, somos imersos em uma narrativa caótica, recheada de discussões altamente filosóficas (marca registrada do Dostoiévski, aliás). Em muitos momentos consegui enxergar conexões entre esta obra e Memórias do Subsolo que parece fornecer uma sustentação psicológica para várias obras do autor.

Não conseguiria esmiuçar muitas partes aqui até porque, como disse, foi o maior livro que já li até hoje e é um baita tijolo. Por isso, gostaria de destacar algumas partes memoráveis durante a minha experiência de leitura.

A primeira delas se encontra logo nas primeiras páginas onde acompanhamos Míchkin narrando uma quase execução que presenciou na França. A carga emocional que tal narração carrega é impressionante. Neste momento, consegui encontrar nas entrelinhas uma grande conexão com Memórias do Subsolo, como comentei ali em cima: aqui, Dostoiévski traz, novamente, uma discussão acerca da consciência, seu peso e sobre como a consciência de algo pode se tornar uma doença. Neste caso, Míchkin narra a dor na consciência de alguém que sabe que a morte se aproxima:

Há uma sentença; e toda a medonha tortura jaz no fato de que não há, certamente, meios de escapar. E não há, no mundo, tortura maior do que esta.

Outra parte marcante e chocante é a narração do ataque epilético de Míchkin. Simplesmente UAU. Torna-se ainda mais impressionante quando recordamos que Dostoiévski também era epilético e que, neste caso, ele estava narrando algo totalmente familiar a ele mesmo. Este capítulo foi, sem sombra de dúvidas, um dos pontos altos do livro para mim e DIGO MAIS: uma das coisas mais bem escritas que já li. Eu só consigo tecer elogios ao Dostô. 

Acompanhamos os momentos antecedentes ao ataque e a descrição dos sintomas: confusão, dissociação, tontura, adrenalina alta, paranoia e a alta percepção de sua autoconsciência são alguns dos estados mentais descritos magistralmente pelo Dostoiévski. Percebam que o assunto da consciência vem à tona mais uma vez.

Também gostaria de lembrar da citação de uma pintura intitulada O Corpo do Cristo morto na Tumba (1520-1522) do alemão Hans Holbein:


Uma das minhas coisas preferidas nos livros é quando o autor cita outros livros ou obras de arte. Isso aconteceu muito em Jane Eyre, por exemplo. Aqui, em O Idiota, o Dostô faz referência a esta obra que ele viu pessoalmente em sua passagem pela Suíça. Agora, enquanto escrevo esta resenha, percebo o quão conveniente foi tal citação já que ambas obras de arte compartilham características entre si: austeridade, crueza e certa melancolia. 
Creio que, via de regra, os pintores que pintam Cristo na cruz ou depois de descido dela timbram em manter uma extraordinária beleza no Seu rosto. Esforçam-se por preservar essa beleza mesmo em Suas mais tenebrosas agonias. No quadro de Rogójin (a pintura de Holbein) não havia o menor vestígio dessa beleza. (...) Evidencia o bem o cadáver dum homem, um ex-homem, a natureza dum ser que acabou. (...)
Palavras do personagem Ippólit, o representante do niilismo ateu aqui na história.

Personagem este que, durante umas 50 páginas, nos surpreende com um longo discurso que precede uma das cenas mais chocantes do livro. O Ippólit é mais uma das manifestações do arquétipo do homem do subsolo na literatura do Dostoiévski: a doença terminal que o acomete o faz questionar a supremacia da realidade em detrimento da vontade humana e isso o faz questionar o porquê de sua própria vida. Por meio dele somos apresentados à visão materialista perante a morte. 

E para finalizar as citações por aqui não posso deixar de falar do final perturbador do livro. Na verdade, não posso falar nada além disso para não revelar o que acontece, mas posso dizer que o final faz o livro valer bastante à pena. Queria saber como o pessoal da época do lançamento do capítulo reagiu haha, queria poder ver a reação da pessoas. Quanto a minha reação, posso dizer que tremi e suei. Sem exagero. Minhas pernas ficaram tremendo por uns 10 minutos. 

Enfim, esse é O Idiota. Um livro certamente memorável, mas sem apelo ao grande público (eu penso?). Não é uma obra que vá agradar a todos definitivamente. O ritmo, como disse anteriormente, é lento. Não espere por acontecimentos chocantes a cada capítulo ou ganchos que te fazem querer passar uma madrugada inteira lento. É uma história para ser lentamente degustada.

Para finalizar, deixo aqui alguns comentários sobre a minha edição:

Faz parte de um box de 2 livros (O Idiota e Memórias das Casas dos Mortos) da editora Nova Fronteira que comprei em outubro de 2024 na promoção por R$85,50. Em relação à qualidade: não há o que reclamar. Os livros são belíssimos, costurados, com capa dura, folhas texturizadas e e levemente amarelas. PORÉM, eis o grande porém: as notas são praticamente inexistentes, o que significa que muitos detalhes e referências passam despercebidas. Ah, e alguns trechos em francês se quer são traduzidos também. Neste quesito o box ficou a desejar. Das próximas vezes vou tentar ser mais paciente para guardar um dinheirinho a mais e poder comprar as edições de editora 34.

É isto! Ufa. Uma resenha grande para um GRANDE livro (nos dois sentidos). Até mais!
"É verdade, príncipe, que o senhor disse uma vez que a beleza salvaria o mundo?"

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Diário de preparação para o mestrado: primeiros passos

Oi! Este é o meu primeiro diário "do mestrado". Bem, eu ainda não estou NO mestrado, mas espero poder registrar tudo: desde a minha preparação para o processo seletivo até o mestrado em si (se Deus quiser). 

Mas não vamos pular etapas! Vamos começar pelo começo, pois quero fazer uma breve introdução.

Eu sou a Camila e neste momento estou cursando o 7º semestre da faculdade de História na Universidade Católica de Brasília, portanto me formo no fim deste ano de 2025. Tenho aproximadamente 1 ano e meio até o inicio das aulas do mestrado, caso eu seja aprovada. Pretendo ingressar no Programa de Pós-Graduação da UnB (Universidade de Brasília) e não tenho planos de ingressar em outro programa, pois não pretendo me mudar do DF.

Minha graduação (que inclusive descrevo melhor neste outro texto) me habilita apenas como licenciada, o que significa que: 1) eu posso dar aulas, mas escolhi priorizar o mestrado; 2) não tive as matérias do bacharelado que focam em pesquisa acadêmica.

Já pensava nessa possibilidade de fazer mestrado há um tempo, mas só agora no início deste ano que acabei tomando a decisão final mesmo. Eu nunca havia ouvido falar de vida acadêmica até o meu ingresso no Ensino Superior. Na escola esse assunto é inexistente. Gosto da ideia de poder trabalhar ensinando e estudando ao mesmo tempo e considero que seja um bom caminho a seguir, apesar de todos os obstáculos e partes negativas inerentes ao exercício da docência no Brasil (mas que profissão que não tem suas complicações, não é mesmo?). 

Sobre o processo seletivo

 Como disse: eu tenho 1 ano e meio até o início das aulas, mas somente 1 ano para o início do processo seletivo, que dura alguns meses, e que é bem longo já que é dividido em algumas etapas.

Neste 1 ano preciso me preparar para: uma prova escrita; uma prova de compreensão de textos em Inglês e para uma prova oral, além de já ter que apresentar o meu projeto.

O que me amedronta, por assim dizer, é o projeto de fato. Eu não tive introdução à pesquisa acadêmica, o que significa que precisarei correr atrás de todo esse arcabouço teórico para pesquisas em História (que por sinal são bem complexas) e, ao mesmo tempo, precisarei pensar no projeto em si, que é erguido pelo tripé: recorte espaço temporal, fontes e metodologia.

Sobre o projeto

Já tenho certa ideia do que quero pesquisar e digo isso porque se não tivesse nenhum interesse latente não sei se inventaria de fazer mestrado por agora. Percebi que, ao menos em História, o pesquisador precisa ser instigado pelo seu objeto de estudo. No meu caso, até o presente mo, meu interesse está direcionado para a Antiguidade e mais precisamente para a Grécia Antiga. Gostaria de ficar no universo da cultura, representações e ideias. Gosto muito de estudar mitologia, simbolismo e educação e acredito que meu projeto vai ser erguido por este tripé.

Ano retrasado, depois que li a Ilíada, eu fiquei extremamente interessada em entender como o que para nós é tido como vício, para eles, era tido como virtude, como também, entender como era possível que ideais tão distantes dos nossos poderiam ter influenciado tanto a formação da civilização ocidental. O que nos aproxima deles é mais decisivo daquilo que nos afasta? Isso me chamou atenção.

Foi dessa curiosidade que surgiu o meu artigo "A manifestação de valores na Paideia grega: uma análise do papel formativo de Homero" onde investiguei, brevemente, o escopo moral na formação dos gregos. 

Sei que posso me aproveitar da breve experiência que tive ao escrever este artigo, mas agora, para o mestrado, a preparação precisa ser mais robusta já que preciso estruturar formalmente a minha dúvida, ou seja, preciso formular um projeto convincente e bom. Preciso fazer com que se interessem pela minha curiosidade também.

Os primeiros passos

Bom, acho que neste primeiro mês já consegui me organizar um pouco. 

A primeira coisa que fiz foi me familiarizar com o edital do processo seletivo: o li, fiz anotações, entendi as particularidades, disposições das vagas e pré-requisitos. 

Pelo edital também consigo saber quais obras serão cobradas como bibliografia básica para a prova escrita deste ano. Não expliquei antes, mas a prova escrita é composta de duas questões que devem ser respondidas visando a compreensão e articulação das obras indicadas. Significa que preciso ler as obras do edital deste ano e me familiarizar com elas. Pode ser que obras sejam retiradas, substituídas ou acrescentadas no ano que vem, no meu edital, mas isso é preocupação para mais tarde. Pretendo fazer estas leituras no decorrer deste ano.

Logo no início percebi que precisaria organizar todas essas informações, além de filtrá-las, e já separei um caderninho para isso. É um caderninho meeesmo: bem pequeno, cabe na palma da mão. Vai me ajudar a anotar só o essencial. Nele já anotei coisas como: especificidades do processo seletivo da UnB; anotações sobre a Linha de Pesquisa que quero seguir (vou falar sobre isso no próximo diário); anotações sobre a professora que vejo como uma possível orientadora e instruções mais práticas sobre o que é um projeto e coisas do tipo. 


Outras coisas que já andei fazendo: análise do currículo dos professores do Programa da UnB; análise de dissertações e teses de História (para entender como recortam os assuntos) e análise de temas mais gerais para entender como estes temas costumam aparecer. Quem sabe explico isso de forma mais minuciosa em breve.

Também já tive contato com algumas obras. Deixo aqui a lista para finalizar:
1) Ebook: Quero fazer mestrado em História!, do Bruno Leal | (havia lido este há um bom tempo e me ajudou a sanar muitas dúvidas básicas sobre o mestrado!);
2) Práticas de Pesquisa em História, da Tania Regina de Luca; | lendo neste momento. Introdutório, mas esclarecedor.
3) O projeto de Pesquisa em História do José d'Assunção Barros. | muito completo e denso. Quero comprar o físico para poder consultar, mas é meio carinho;
4) O que é a História Cultural?, do Peter Burke.

O primeiro livro que comprei pensando no Mestrado!

Caso queiram perguntar algo, podem deixar aqui nos comentários. 

É isto! Nos vemos em breve com mais atualizações. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Pequenos momentos #8 | o segundo semestre de 2024: estágios, sebo e morangos na hora de casa

Depois de um looooongo tempo desengavetei um mini-vlogO último que postei tem já faz 5 meses. 

Eu comecei a gravar este logo depois do anterior, mas confesso que a parte da edição é meio chata. De qualquer forma, eu gosto muito de gravar esses vídeos e quero continuar agora em 2025. Aqui no blog deixo meus registros escritos, mas a ideia de criar registros visuais também me agrada muito. 

Neste vídeo compilei pequenos pedaços dos meses de agosto à novembro do ano passado. Queria poder gravar vídeos longos e mais detalhados, mas eu uso o celular para gravar e editar e o bichinho não aguenta o tranco. Quem sabe futuramente eu consiga uma câmera legal para gravar e poder conversar mais.

Até mais!


terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Troca de cartas do Natal de 2024

O Natal chegou mais uma vez e com ele, pelo segundo ano, a tradição de trocar cartas com minhas amigas.

Nosso grupo começou a tradição no Natal de 2023 e, desde então, trocamos cartas na Páscoa e no Natal. São datas muito importantes para nós enquanto católicas e poder trocar cartas em tais datas só reforça a importância desses dias tão belos e profundamente significativos.

Desde então, nos empenhamos e fazemos coisinhas para enviarmos uma para as outras. Já compartilhei fotos das cartas anteriores aqui no Blog.

Estas foram as cartas que fiz desta vez para minhas amigas:



Enviei bolinhas de Natal que faço à mão e que vendo no Natal desde 2021. A frase "no meu coração há uma árvore de Natal"  é de uma música natalina da Taylor. Também enviei coisinhas de bordado que fiz nos últimos meses: um porta-moedas e um marca-páginas. Os marca-páginas magnéticos comprei meses atrás em um sebo. E, claro, a carta, né!? Eu sempre envio marca-páginas e daqui a pouco elas vão ter uma coleção dos marca-páginas que envio haha. Ahh, estava esquecendo dos cartões natalinos que desenhei. Fiz tudo com muito carinho. Me diverti muito criando essas coisinhas para elas.

E estas foram as cartas que recebi:



Minha amiga V. sempre me envia coisas lindas que ela ilustra! Desta vez eu ganhei adesivos (😭) preciosos, um marca-páginas fofíssimo com uma ilustração dela também e um serafim (neste ano lemos a Divina Comédia juntas) com um rosto simpático. Também ganhei sementes de uma flor chamada Cosmos! Espero voltar com fotos dela bem linda. Minha amiga me inspira muito e poder receber coisinhas que ela faz é sempre muito especial.



Eu e minha amiga A. sempre trocamos as cartinhas pessoalmente porque moramos razoavelmente perto uma da outra. Ela faz aquarelas impecáveis e eu já tenho uma mini coleção delas! <3 Eu amei os cartões postais de Natal que ela também ilustrou!!! Minha cartinha foi toda natalina. Também ganhei coisinhas temáticas da Taylor: um chaveiro do Snoopy versão tortured poet e cartões com fotos da The Eras (nós 3 acompanhamos a The Eras juntas durante todo este tempo). E, por último, mas não menos importante: UM COOKIE MARAVILHOSO que a mãe da minha amiga faz. Estava tão delicioso que comi em parcelas, haha! 

Durante um tempo na vida eu pedia a Deus por amizades católicas e Ele atendeu minhas orações de uma forma surpreendente. Eu nunca saberei agradecer o suficiente. Toda essa dedicação e empenho para fazermos coisas tão singelas umas para as outras só materializa algo que é espiritual. 

O ciclo do Natal só acaba dia 13 então, tecnicamente, ainda é Natal! Que Nosso Senhor Jesus encontra lugar nos nossos corações até o fim de nossas vidas.