sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Um relato sobre os meus estágios obrigatórios

Desde agosto estive fazendo os estágios obrigatórios da faculdade de História. Estou no sexto semestre e me formo ano que vem. Na verdade, eu também fiz um outro estágio em março deste ano, mas foi só de observação da organização da escola. Agora, eu entrei em sala de aula, observei e lecionei também.

Eu não estava ansiosa para os estágios e acredito que seja porque anteriormente já tive experiência com docência quando fui professora de Inglês em uma escola de idiomas. Apesar de serem dois ambientes diferentes, a essência da docência está nos dois lugares. Eu já entendia, na medida da minha experiência relativamente curta, como funcionava o ano letivo, a relação com os alunos e os pais deles. Isso, meio que involuntariamente, me prepararia para os estágios.

Digo isso porque acredito que deva ser estranho entrar em uma sala de aula pela primeira vez. Eu não lembro da primeira aula que dei então não posso falar da minha experiência haha, mas sei que não é fácil. Mesmo tendo certa facilidade em lidar com pessoas e falar em público, a docência é diferente porque de certa forma você se expõe, você tem que se entregar totalmente para que aquilo seja genuíno e verdadeiro.

Nas faculdades de licenciatura precisamos fazer estes estágios obrigatórios em campo porque, certamente, entrar de uma vez na sala de aula não é uma boa. Exige certo treinamento e os estágios ajudam justamente nisso. Por exemplo, a minha maior dificuldade durante o estágio foi o planejamento das aulas, saber quando a aula está boa de verdade. Acredito que eu vá aprender isso com o tempo. Um conhecido, que é professor há anos, me disse que depois de um tempo ele passou a arquivar os planos de aula e que, depois de um tempo, ele tinha planos para praticamente todos os alunos e que só atualizava conforme o tempo fosse passando. 

Eu dei muitas aulas e nas mais variadas turmas, do 6° ano a 3° série do E.M e senti que a mudança não é tão grande assim quando se trata de preparação de aula. Queria acreditar que os alunos do Ensino Médio deveriam estudar e tratar dos assuntos com mais profundidade, mas infelizmente não é o que acontece. 

No início dos estágios, eu comprei um caderno quadriculado bem simples para que eu pudesse planejar as aulas nele. Deu relativamente certo, nele registrei os mapas mentais ou esquemas de preparação para as aulas. Também entendi que apesar de entender os temas, eu também preciso saber explicá-los de maneira didática (parece óbvio, mas na prática é muito mais sério). Por isso, para algumas aulas, eu criava esquemas mentais (no papel) de como concatenar os tópicos da aula.

O caderno que usei. Comprei na Daiso.

Eu me desafiei a testar formas variadas de dar aula: usei slides, mapas mentais, o livro didático e a minha própria mente (expliquei sem usar nenhum outro suporte). Foi bom e eu nem tinha me tocado acerca dessa variedade até começar a escrever esse texto. Em uma aula, sobre Segunda Guerra, eu utilizei um dos vários sites que eu tenho salvos no meu notebook com recursos legais de fotos, vídeos, etc. Eu também utilizei mapas nessa aula (sou meio obcecada por mapas) e eu amei tanto... eu quero ser a professora que entra com um mapa de baixo do braço.



Como comentei, eu acabei dando aula para as mais variadas turmas e, consequentemente, dos mais variados assuntos. Porém, os meus favoritos foram Segunda Guerra e Revolução Russa. Eu também amo estudar sobre a Primeira Guerra, mas a complexidade não comporta os limitados horários das aulas de História no ensino regular. Dá para entender porque muitos professores de História acabam reduzindo tudo a números e datas infinitas e desconexas: o próprio sistema os obriga.

Grande parte dos alunos eram bem indiferentes. Poucos tinham curiosidade em saber porque eu estava ali, de onde eu surgi e tal. Acredito que mesmo explicando, alguns ainda ficaram meio (?). Mas, em compensação, alguns poucos participavam, tiravam dúvidas ou simplesmente ouviam com respeito. Respeito que faltou em alguns momentos onde os alunos simplesmente ignoravam a existência do professor ou a minha. 

Eu aproveitei o momento e fiz leituras sobre educação, ou melhor, sobre como ela deveria ser. Li basicamente sobre a crise do sistema educacional. Era até engraçado porque, às vezes, eu estava lendo sobre algo, sobre algum problema e quando eu levantava a cabeça aquilo estava acontecendo literalmente diante dos meus olhos. Era meio Black Mirror, sabe?

Lista das coisas que li durante esses meses:
1. The Lost Tools of Learning (As Ferramentas Perdidas da Aprendizagem) da Dorothy Sayers (escrevi sobre aqui no Blog
2. Meditar e aprender: Sobre o modo de aprender e meditar & Opúsculo áureo sobre a arte de meditar, do Hugo de São Vitor
3. Capítulo A Crise da Educação do livro Entre O Passado e O Futuro da Hannah Arendt
4. Emburrecimento Programado: O Currículo Obrigatório da Escolarização Obrigatória, do John Taylor Gatto (este ainda estou lendo)

Eu confesso queria escrever muito mais sobre o assunto, mas eu tenho medo de me comprometer, haha. Quem sabe não relato mais a minha experiência de forma diluída em textos futuros? Não quero parecer tão literal.

Mas, se posso dizer algo, diria que: eu me estressei em muitos momentos por várias razões. Antes eu já era bem crítica em relação ao estado de coisas na atualidade e essas experiências só me dão mais embasamento para a minha criticidade. Sou bem pessimista, mas continuo no meu caminho. A minha esperança em relação ao sistema educacional não se firma no próprio sistema, isso seria maluquice até porque a educação verdadeira não tem o seu fim em si mesma.

Bom, ainda falta um ano de graduação, mas sinto que já estou na reta final. Estou ansiosa para os próximos capítulos e espero poder relatá-los por aqui. 

6 comentários:

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  3. Aii que bom ler seus relatos e reflexões!! Assim não me sinto tão sozinha em relação às nossas opiniões... Fico chocada em como vc consegue ler tudo isso e ainda estudar e preparar aula e dar aula e um tanto de coisa que vc nem citou do seu dia a dia, te admiro muito! Fico bem feliz em ver pessoas que estão atuando em uma área e se preocupando com ela, ao ponto de estudar e se desenvolver melhor.

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    1. Oi, Clara <3 não estamos sozinhas!

      Sobre as leituras: eu li grande parte delas durante o estágio (que teve 60h haha). Ah, e o Kindle me salvou muito: li tudo nele, menos o capítulo da Hannah Arendt. Obrigada pelo carinho, gosto muito de te ver por aqui :)

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  4. Nossa, Camila, eu te entendo perfeitamente. Minha experiência no estágio obrigatório da faculdade foi bem semelhante a sua, mas eu tive menos oportunidade de dar aulas, já que a maior parte das horas de estágio era apenas observacional.

    Apesar de ter me entristecido com a realidade da escola onde estagiei, eu também consegui perceber que a minha visão de escola pública era muito mais assustadora e catastrófica do que a realidade que eu encontrei naquele colégio específico. Porém, depois dessa experiência eu cheguei a uma conclusão um tanto mais desanimadora: o nosso nível educacional está ruim em todos os lugares, seja num colégio de elite ou num colégio público...

    Adorei essa sua lista de leituras! Eu só conhecia esse Opúsculo do Hugo de São Vitor, mas já faz tanto tempo que eu li que preciso fazer uma releitura qualquer dia desses. As outras obras eu já anotei na minha listinha de leituras para o futuro.

    Ah, e eu amei esses seus mapas mentais! Que lindos!

    https://petalasdemaioblog.wordpress.com/

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  5. Oi, Gabriela! Pois é... eu sou da opinião meio pessimista de que o sistema não tem solução, sabe? O professor Monir Nasser já falava sobre isso.

    Sobre a lista: recomendo todos!!! O capítulo da Hannah Arednt dá para encontrar bem facinho na internet, em pdf! Acho essencial para pais e professores, foi uma das melhores coisas que já li.

    Obrigada pelo carinho! <3

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