terça-feira, 24 de setembro de 2024

Sobre formar-se: o espirito deve triunfar sobre a matéria.

Continuando a ler sobre Educação, acabei começando a ler, despretensiosamente, um livro que até então só tinha usado para fazer consultas: A Formação da Personalidade, do Padre Leonel Franca. Por isso, quero muito ir escrevendo breves reflexões por aqui conforme eu for lendo.

Amo essa capa!

Acho que já comentei por aqui sobre como eu sou um tanto quanto pessimista quando o tema é educação e é engraçado falar isso enquanto estudo para ser professora, e professora de história...

Ontem estava no Instagram e vi um post sobre como a maior parte das pessoas formadas em história não exercem a profissão ou estão desempregadas. Nos comentários o que havia era basicamente tristeza, lamentos e pessoas desaconselhando as outras a NÃO seguirem por esse caminho, pelo caminho da docência. Olha, se eu tivesse escolhido ser professora simplesmente por escolher, sem nenhum motivo mais concreto, eu já estaria em uma crise existencial daquelas. Estudar sobre o que é uma boa educação e sobre a importância dela são alguns dos motivos pelos quais eu continuo no meu caminho aparentemente tortuoso. 

Parece ser meio radical hoje em dia não querer viver pensando ou tomando decisões somente pelas circunstâncias temporais e espaciais em torno de nós. A materialidade da vida moderna não somente triunfou sobre o espírito, mas o aniquilou

Nessa primeira parte do livro, o Padre fala algo interessante sobre como a aquisição de técnicas, de meios para exercer determinada profissão precisa estar em consonância com a formação do homem. Ora, isso é exatamente o oposto do acontece hoje em dia. Os anos de estudo, de profissionalização nem se quer tocam o espirito dos homens hoje em dia. Vemos as escolas, as faculdades, os cursos profissionalizantes instruindo homens e não formando-os.

Mas ok, o que seria exatamente essa formação? Seria o cultivo daquilo que nós temos de melhor, daquilo que está adormecido em nossas naturezas decaídas. A verdadeira educação preocupa-se primordialmente em despertar a perfectibilidade adormecida no homem por meio das virtudes e dos hábitos. É o tornar-se bom, instruir a vontade, ser capaz de tomar decisões direcionadas ao Bem.

Não somos de ceira, somos de mármore.

Mas acontece que o homem não consegue formar-se pelas suas próprias forças: ele é dependente, é tributário, nas palavras do Padre, do tempo e do lugar que vive. Não somos espíritos; pelo corpo, entramos no espaço e no tempo, pertencemos a um país, a uma raça, e daí sofremos inúmeras restrições nos nossos desenvolvimentos possíveis (p. 17).

E pensar sobre tudo isso me levou de volta aos meus estudos do ano passado enquanto me preparava para escrever sobre a educação dos gregos antigos. Educação esta que também é configurada como clássica e que se diferencia enormemente da educação moderna justamente por esta questão: conforme os séculos foram passando, a educação foi-se descolando do aspecto formativo, tornando-se cada vez mais apenas instrutiva e enciclopédica. Esse parece ser, a meu ver, o cerne do problema da educação moderna.

A educação participa na vida e no crescimento da sociedade, tanto no seu destino exterior como na sua estruturação interna e desenvolvimento espiritual; e, uma vez que o desenvolvimento social depende da consciência dos valores que regem a vida humana, a história da educação está essencialmente condicionada pela transformação dos valores válidos para cada sociedade. À estabilidade das normas válidas corresponde a solidez dos fundamentos da educação (Werner Jaeger em Paideia, p. 6).

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