Depois de uma jornada de 5 meses finalizamos a leitura da Divina Comédia! Acho curioso pensar que a narrativa do livro inteiro se passa em uma semana.
Falei mais sobre a edição que escolhi na parte I e II dos diários de leitura. |
Isso porque é claramente perceptível como a obra segue uma gradação: tanto em relação aos símbolos, descrições e ilustrações (do Gustave Doré, no caso). A obra realmente ascende conforme a viagem de Dante vai se desenrolando.
Apesar disso tudo, preciso confessar outra coisa: a Divina Comédia, ao contrário do que eu imaginava, não se tornou um dos meus livros prediletos. Sem sombra de dúvidas é uma das melhores coisas que já li (daqui para frente vou ser ainda mais crítica com o que leio hehe), mas eu não posso dizer que gostei tanto a ponto de se tornar um favorito. Eu gostei de partes mais específicas e não do todo. Cantos específicos e passagens específicas me marcaram muito, mas a montanha-russa de emoções e opiniões durante os 5 meses acabaram me desanimando em alguns momentos. Talvez a extensão da leitura tenha sido um ponto considerável para isso. Meu namorado queria ficar lendo por mais tempo KKKK. Pode ser que uma releitura feita com mais bagagem no futuro faça a minha opinião mudar.
É condição da alta e serena vida sujeitar-se à divina volição, que torna sua própria, co' ela unida. (Canto III, 79-81) |
Falando especificamente sobre o Paraíso: assim que comecei a leitura senti mais dificuldade. Eu deixei de consultar mais de uma tradução porque meu tempo dedicado à leitura foi diminuindo conforme a leitura foi avançando, então eu só usei a minha edição mesmo, com a tradução do Cristiano Martins.
Quando um Canto me chamava mais atenção ou eu sentia que as notas disponíveis na minha edição não eram suficientes eu consultava o livro The Divine Comedy: III Paradise da Dorothy Sayers. Encontrei PDF na internet. Eu usei o segundo da mesma série quando estava lendo o Purgatório e posso dizer que a diferença foi grande. Para quem está procurando um baita livro de apoio recomendo essa série.
Falando em livros de apoio, eu pretendo fazer uma lista com os sites e materiais de apoio que utilizei durante esses 5 meses. Em breve devo postar por aqui.
Algo que ficou marcante para mim nessa última parte foi a questão da Cosmologia medieval. Até então esse assunto era totalmente desconhecido para mim. Inicialmente, estranhei bastante até entender, minimamente, um pouco da visão medieval acerca da disposição do Universo. No livro da Dorothy encontramos uns gráficos e esquemas muito bons que me ajudaram MUITO.
Ainda sobre o assunto, eu li um artigo maravilhoso e esclarecedor sobre o assunto chamado Olhando para as estrelas, a fronteira do imaginário final: Astronomia e Astrologia na Idade Média e a visão medieval do professor Ricardo da Costa. Logo no início, o professor fala sobre a importância de "aprisionarmos" o autor em seu tempo até para que possamos evitar anacronismos e coisas do tipo e isso me fez pensar como é importante tentarmos aproximar o nosso olhar do olhar do autor ao máximo quando nos aproximamos de uma obra como a Divina Comédia. Apesar de ser um grande clássico que ultrapassa as barreiras do tempo e espaço, também encontramos diversos traços temporalizantes dentro da obra. Acredito que para aproveitarmos o que a obra tem a nos oferecer precisamos voltar temporalmente por meio de nossas imaginações e o artigo me ajudou muito com isso!
Uma das coisas mais importantes que aprendi durante essa leitura foi o fato de que os medievais dividiam a disposição do Universo em duas partes: uma chamada supralunar e a outra sublunar. A esfera sublunar é onde as obras da natureza se encontram e a supralunar é onde estão os anjos e santos na glória de Deus. Esta esfera, a supralunar, emitiria fluídos invisíveis que seriam responsáveis por influenciar as coisas no mundo sublunar. Foi importante entender isso tanto quanto leitora da Divina Comédia como estudante de história que tem muito interesse pela mentalidade do medievo.
Também aproveitei para ler A Vida de Dante do Giovanni Boccaccio, como havia comentado no último diário de leitura. Durante a leitura, surgiram alguns questionamentos sobre a vida pessoal do Dante e eu logo pensei que seria legal ler uma biografia sobre ele. Lá fui eu pesquisar e descobrir que realmente existem muitas opções, mas todas opções eram calhamaços ou quase calhamaços.
Nesse pequeno livrinho, encontramos a primeira biografia sobre o Dante. O Boccaccio foi um dos principais propagadores da obra de Dante após a morte deste. Ele também foi o responsável por organizar as primeiras leituras em público da Divina Comédia. Achei o livro curiosíssimo porque foge completamente da nossa concepção de uma biografia moderna. O que o Boccaccio faz, na realidade, é louvar o Dante. Ele pincela sobre acontecimentos particulares acerca da vida do Dante, mas não há nada muito aprofundado ou algo do tipo. Além dos traços biográficos que o livro carrega, encontramos apontamentos pessoais do próprio Boccaccio sobre outros assuntos paralelos como a origem do ofício do poeta. Parece aleatório, mas eu gostei bastante das reflexões que ele faz.
Aqui (no Paraíso) não nos afeta o mal nefando, que não nos volve à mente a culpa antiga; à luz de Deus nos vamos alegrando. (Canto IX, 115-117) |
Queria muito ter tido mais tempo para estudar a obra, ainda mais nessa terceira parte, porque a simbologia aqui é uma coisa incrivelmente curiosa e importante. Queria ter tido mais tempo para estudar a simbologia acerca dos planetas porque o Dante distribui as almas dos Bem-Aventurados de acordo com o planeta, como por exemplo, no céu de Saturno ficariam os espíritos dos contemplativos; no Sol, ficariam os teólogos e na Lua, ficariam os inconstantes (pois fases da Lua e etc). Não pude explorar essas particularidades mas, se Deus permitir, pretendo reler essa obra outras vezes.
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Eu também tive essa sensação de que por ter delongado demais na leitura, isso afetou meus sentimentos para com ela. Mas apesar disso, eu considerei A Divina Comédia um dos meus livros favoritos. Eu realmente entendi o porquê o Dante ser considerado genial. Mas se Deus quiser, ao longo do tempo vamos adquirir mais base para uma compreensão mais profunda da obra e ele vai estar no primeiro da lista de favoritos, quem sabe?! hahaha Eu amei trocar ideiais a respeito contigo, espero que possamos fazer isso com outras obras <3
ResponderExcluirSimmm! Que façamos muitas leituras em conjunto (inclusive a própria Divina Comédia outra vez)! Sinto que a Divina Comédia é um livro que aumenta a sua grandiosidade conforme adquirimos essa mesma grandiosidade para compreendê-la. <3
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