Dando continuidade ao meu projeto de leitura da Bíblia, nestas férias consegui ler o Êxodo, segundo livro do Pentateuco. Foi a minha primeira vez lendo o Êxodo, mas assim como tantas outras histórias das Escrituras, eu já tinha certa noção da narrativa do livro já que as histórias bíblicas fazem parte do nosso imaginário, o que acabei conhecendo foram os detalhes. Estou bem empenhada em conhecer as histórias fundacionais da nossa civilização.
O Êxodo, em particular, me chama bastante atenção por conta do contexto histórico. Tenho um interesse particular pela Antiguidade: os costumes, o cotidiano e a cultura popular me chamam bastante atenção. Interessa-me ainda mais quando posso encontrar civilizações interagindo entre si, e é justamente o que acontece no Êxodo.
O Êxodo, além de possuir um valor literário, possuí um valor espiritual e histórico extremamente relevante. Do ponto de vista literário, encontramos uma verdadeira odisseia dos israelitas rumo à terra a eles reservada por Deus. Da perspectiva espiritual, encontramos belíssimas prefigurações do sacrifício de Cristo. Já historicamente, podemos encontrar um breve retrato de uma sociedade do Oriente Médio no segundo milênio antes de Cristo. Afinal, toda narrativa pode ser, de certa forma, um retrato da realidade.
O Êxodo exige uma leitura atenta por parte do leitor, mas confesso que várias vezes durante a leitura senti certa dificuldade em continuar por conta das descrições detalhadas e por vezes repetitivas (contudo, devemos sempre ter em mente que na Bíblia cada palavra tem um porquê de estar ali).
Algo que também se tornou um alvo de reflexão para mim foi pensar o quão detalhista Deus É. Basta observamos a obra da criação. Ao admirar a beleza da natureza, a precisão do organismo humano e a grandeza do universo podemos contemplar, na medida da nossa capacidade, esta característica divina. No Êxodo, ao descrever o templo, Deus faz questão de ensinar didaticamente toda a arquitetura do templo e a procedência em relação aos sacrifícios que ali deveriam ser feitos.
Deus, além de instruir o povo por meio de Moisés acerca de suas obrigações religiosas, também busca, por intermédio de Sua Providência, formar o caráter daquele povo durante os quarenta anos de peregrinação no deserto. Aliás, deserto este que pode nos traduzir realidades espirituais muito profundas e que não precisa e não pode ser visto, apenas, como um lugar de austeridade, mas como um lugar de profunda meditação e solitude: um lugar onde Deus nos comunica. Assim como o povo de Israel é conduzido às profundezas do deserto durante quarenta anos, Nosso Senhor Jesus Cristo também se direcionaria ao deserto durante quarenta dias. Tempo este que se traduz na Quaresma, tempo oportuno para adentrar no deserto espiritual com Jesus.
No deserto, imersos em um espírito de entrega a Deus, somos colocados diante à vontade de dEle que, por vezes, pode aparentar ser incompreensível, assim como o foi para os israelitas que questionavam Moisés acerca do porquê de tudo aquilo. É neste momento que Deus busca forjar o nosso caráter: por meio das situações em que Ele nos coloca.
Nosso Senhor, sempre preocupado em nos ensinar didaticamente a Sua vontade, também se fez como nós, exceto no pecado, e se submeteu às tentações afim de nos mostrar como devemos reagir perante às dificuldades e momentos de aridez. Santo Tomás nos explica o porquê de Cristo ser tentado em suas meditações para a Quaresma.
Enfim, não foi proposital, mas finalizei minha leitura do Êxodo um dia antes da Quaresma deste ano se iniciar (sempre a Providência agindo). Fiquei muito feliz em ter lido em um momento tão propício para isso. De certa forma, senti meu espírito mais preparado para esse tempo tão rico que estamos vivendo. Agora sigo para o livro do Levítico.
Desejo uma ótima e frutífera quaresma a todos!
Também foi a primeira vez que li o livro todo e me surpreendi por ter gostado tanto!! Amei as suas impressões e espero que faça dos outros livros da Bíblia.
ResponderExcluirAh, que legal! Vou tentar comentar todos conforme for lendo <3
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