quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Diário de leitura: Odisseia, de Homero (parte final).

Uma das sensações mais legais da vida é finalizar uma leitura e pensar: é, encontrei um dos meus livros preferidos. 

Há um ano, quando eu havia acabado de conhecer a narrativa dos épicos homéricos, eu fiquei extremamente empolgada com a história contada na Odisseia. Posteriormente, assisti uma entrevista do professor André Malta, onde ele explica algo interessante, que pode, de certa forma, explicar a minha empolgação: a Odisseia é a gênese dos gêneros literários modernos e, ao contrário da Ilíada, é mais simpática ao leitor moderno justamente por conta da similaridade dos elementos que encontramos em ambas construções literárias. 

A Ilíada é, de fato, mais bruta, mais dura, mais violenta. É preciso ter certo estômago para ler as descrições extremamente brutais que existem ali. Contudo, para balancear um pouco a narrativa do ciclo troiano, temos o Odisseu ou Ulisses (eu, particularmente, prefiro Ulisses) que, se utiliza da sua esperteza nata para driblar o mundo fantástico que o encontra na sua volta para casa. É de se impressionar a capacidade que Ulisses tem para criar histórias e vidas diferentes para si mesmo durante a jornada de volta para Ítaca. 

Na primeira parte deste diário de leitura, eu compartilhei algumas ferramentas que utilizei durante a minha experiência de leitura. Uma delas, a tabela da ordem de acontecimentos da Odisseia, considero como muito importante pois a estrutura da narrativa não é linear, pois retornamos ao passado algumas vezes durante a história.

Já o outro site que recomendei, o dos resumos de cada canto, não me acompanhou até o final já que conforme a história avança, eu consegui acompanhar a narrativa sem o auxílio dos resumos (o que não aconteceu na Ilíada, por exemplo). Contudo, ter um breve conhecimento prévio dos cantos antes de lê-los pode ajudar sim já que a Odisseia tem algumas divisões, como por exemplo, a Telemaquia, que é composta pelos primeiros quatro cantos do épico, sendo que nesta primeira parte, não nos deparamos ainda com o protagonista, mas sim com o seu filho Telêmaco, que está buscando por notícias do pai "desaparecido" a duas décadas. Portanto, considero que seja importante, antes de iniciar a leitura, entender a estrutura da obra, assim você vai conseguir se localizar melhor em relação aos acontecimentos: não se preocupe com spoilers. Conheça a história antes de lê-la.

Algo que também me ajudou muito durante a minha leitura foram as notas contidas na edição da Penguin. 

A mesma edição da Ilíada, ao contrário, não conta com notas de apoio. Vou me atentar quanto a isso nas minhas próximas leituras de clássicos maiores. Aliás, eu comprei o box da Penguin Companhia ano passado, na amazon, por 70 reais. Hoje, quase um ano depois, o mesmo box está custando 130 reais. Acho interessante e válido pontuar que a qualidade é baixa e depois de ler os dois livros contidos no box, fica simplesmente impossível colocar os dois livros nele novamente, é melhor deixar fora da caixa. Definitivamente não vale 70 reais, imagine 130.

Apesar disso, eu recomendo estas edições por conta da tradução feita pelo Frederico Lourenço. Esta tradução conta com versos livres, ou seja, o tradutor não se preocupou em seguir a métrica, o que torna a versão menos ritmada. Para os iniciantes (assim como eu) pode ser a melhor opção. Da próxima vez que eu for reler tanto a Ilíada, quanto a Odisseia, eu vou optar por traduções diferentes, que sigam a métrica.

Algo interessante que aprendi na aula que citei anteriormente é que, em Portugal, eles preferem utilizar Ulisses do que Odisseu e é por isso que, nesta tradução, o tradutor (que é português) utilizou Ulisses e manteve os demais nomes gregos. 

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Agora, gostaria de falar um pouquinho sobre a narrativa em si.

Existem duas grandes linhas narrativas se desenvolvendo na Odisseia: 

A primeira é a do próprio Ulisses que, durante dez anos, luta contra as intempéries que surgem em seu caminho na tentativa de voltar para a sua terra natal, Ítaca, após a guerra de Tróia. Acontece que o herói homérico é odiado pelo deus dos mares, Poseidon, que o atormenta por vingança já que durante uma das aventuras do Odisseu, ele assassina um dos filhos do deus, o ciclope Polifemo.  

The blinding of Polyphemus

Este episódio, narrado no Canto IX, tornou-se, sem sombra de dúvidas, um dos meus momentos preferidos da literatura até hoje. Ficamos desesperados para que Ulisses e seus companheiros consigam sair da caverna do monstro. Aliás, este é um dos pontos altos da narrativa no que diz respeito à astúcia do herói. Ulisses consegue escapar da morte inúmeras vezes utilizando não a força, mas, principalmente, a sua capacidade de pensar e elaborar estratégias para se safar das mais variadas situações. 

Em seguida, temos Éolo e o saco dos ventos, saco este que, ao ser desatado, poderia levar as naus de Odisseu de volta para casa com o auxílio dos ventos. Esse episódio também foi muito marcante porque quando o li pela primeira vez, imediatamente o associei a uma cena de um dos meus filmes preferidos da infância:

Qualquer semelhança não é mera coincidência, haha.
Eu amava esse filme!

Contudo, apesar de tantas narrações maravilhosas, o Canto XI ainda é o meu momento preferido da Odisseia. É neste Canto que acompanhamos a descida de Ulisses ao mundo dos mortos. Ali, o herói encontra-se com diversos companheiros de guerra da época da guerra, entre eles, o próprio Aquiles que possui uma das falas mais memoráveis do épico: 
Não tentes reconciliar-me com a morte, ó glorioso Ulisses. 
Eu preferiria estar na terra, como servo de outro, 
até de homem sem terra e sem grande sustento,
do que reinar sobre todos os mortos (XI, 488-491).

Nesta fala de Aquiles podemos enxergar nas entrelinhas o ideal de honra para o grego que encarna-se na necessidade de reconhecimento pós-morte. Para o homem homérico, a morte significa realmente o fim. Não há mais o que realizar do lado de lá. Trato um pouco deste assunto aqui.

Foi, aliás, neste momento da minha leitura que encontrei o podcast Noites Gregas. Eu estava em busca de algum material complementar para compreender um pouco mais sobre a mentalidade dos gregos acerca da morte e do submundo e encontrei um episódio maravilhoso que deixo aqui como recomendação.

Por fim, gostaria de destacar os reencontros que acontecem durante a narrativa: o encontro do Odisseu com o seu servo Eumeu; com o seu filho Telêmaco e, por fim, com a sua esposa Penélope, que tanto se destaca na narrativa devido a sua fidelidade ao marido. Estas partes, em especial destacam os dois elementos mais marcantes da Odisseia: a domesticidade a família.

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Sinto que poderia escrever sobre cada um dos Cantos! Contudo, esse não é o meu intuito. Por ora, vou ficando por aqui. Leiam a Odisseia! Garanto que não há como se arrepender. 

Até mais!


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