Agosto de 2023.
Acreditar na ideia de que a cada dia nos aproximamos, naturalmente, de um ideal de perfeição parece loucura demais. Não é preciso acompanhar nenhum tipo de noticiário para constatar isso.
Por mais que essa ideia tenha sido rejeitada, mesmo que parcialmente, o grande problema reside no fato de que essa mentalidade — fruto do verme positivista — penetrou de uma forma irreversível nas entranhas do percurso da mentalidade humana.
Inconscientemente, o futuro tornou-se inseparável do ideal de progresso positivo. Ou seja, um progresso que conduz, necessariamente, a uma melhora súbita. Digo isto porque nem sempre o “tempo progressivo” está ligado a ideia de algo melhor.
Huizinga defende que essa melhoria súbita e irreversível somente seria possível por meio de uma quebra, de uma ruptura abrupta composta por acontecimentos singulares, ou seja, por meio de uma revolução. No seio dessa sempre renovada ideia, a de uma simples reviravolta ou giro na sociedade, foi que originou-se a ideia de revolução. A justificativa para as revoluções passa a existir no momento em que se passa a defender a possibilidade de substituição de um padrão. Basta pensar nas revoluções francesa, sexual ou marxista e em suas respectivas reivindicações.
O caminho a ser percorrido pelo homem tornou-se, como nunca, obscuro e tortuoso. Não há mapa ou bússola que guie o mundo atualmente. Não há um objeto fixo a ser almejado. O que há é uma série de desejos e ambições desordenadas que mudam constantemente. Encontramo-nos em um trem descarrilhado em direção ao mais completo nada.
Chesterton, em sua Ortodoxia, nos exemplifica perfeitamente esta questão:
O único sentido inteligível que o progresso ou avanço pode ter entre os homens consiste em ter uma visão definida, 0u seja, transformar o mundo inteiro à imagem dessa visão.
Lembro-me de ter lido, algum tempo atrás, algo como: “se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve”. Eventualmente, acabei descobrindo que a autoria da frase era de Lewis Caroll, autor de Alice no País das Maravilhas. Dei uma risada na primeira vez que a li porque parecia tolice demais para ser levada a sério.
Mas a ironia é que a tal da frase tola se tornou o resumo de como as coisas têm acontecido. O homem escolheu tudo, ou seja, qualquer coisa. Nas palavras do Chesterton: “É um marxista hoje, um nietzschiano amanhã, um super-homem, provavelmente, depois de amanhã, mas um escravo todos os dias".
E por conta disso tudo, só posso esperar que minhas escolhas sejam fortes o suficiente para que o meu Céu nunca mude.
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