O cristianismo é uma religião de historiadores. Outros sistemas religiosos fundaram suas crenças e seus ritos numa mitologia praticamente fora do tempo humano; como livros sagrados, os cristãos têm livros de história, e suas liturgias comemoram, com episódios da vida terrena de um Deus, os faustos da Igreja e dos santos. Historicamente, o cristianismo ainda está de outra forma, talvez mais profunda: colocado entre a Queda e o Julgamento, o destino da humanidade aparece, aos seus olhos, uma longa aventura, da qual cada vida individual, cada “peregrinação" particular apresenta, por sua vez, reflexão; é nesta duração, portanto, dentro da história que se desenrola, a Eixo central de toda meditação cristã, o grande drama do pecado e da redenção. A nossa arte, os nossos monumentos literários estão carregados com os ecos do passado, os nossos homens de ação incessantemente trazem à boca as suas lições, reais ou supostas.
Acredito que esta passagem transmita uma realidade muito profunda existente no cristianismo: a de nos colocar diante do tempo a todo instante. A Igreja, por meio da liturgia, nos coloca a meditar diariamente sobre fatos históricos, sobre vidas passadas, como também, sobre o fim da História.
Tudo isso para dizer que ser católica me traz um sentimento de nostalgia constante pelo que aconteceu. Mas não digo isso no intuito de querer fazer parecer que me angustio pelo período em que nasci ou algo do tipo: acreditamos que Deus, desde toda a eternidade, sabe o nosso momento exato no tempo. Portanto, eu nasci na época que deveria nascer. Aprendi isso enquanto lia o tópico “O intelectual pertence ao seu tempo", contido no primeiro capítulo de “A vida intelectual" do Sertillanges, onde ele nos diz: “Aproveitemos, vivos, o valor dos mortos. A verdade é sempre nova."
No dia em questão, fui com uma amiga ao Carmelo Nossa Senhora do Carmo, aqui em Brasília-DF, para visitarmos a urna que continha algumas relíquias de Santa Teresinha do Menino Jesus, vindas diretamente da França. A urna estava em peregrinação pelo Brasil em comemoração pelos 150 anos do nascimento da santa padroeira da França.
A urna parecia uma catedral! |
Foi muito emocionante, para mim, poder voltar ao Carmelo depois de 6 anos, agora, como devota de Santa Teresinha. Quando fui à primeira vez, lá em 2017, não fazia ideia de quantas semelhanças eu e Teresa carregávamos em nossas almas.
O dia estava nublado, mas estava bem cheio. O Carmelo possui uma beleza singular: fica um pouco isolado do barulho do mundo, cercado pela vegetação natural do cerrado brasiliense.
Não posso negar que conventos e mosteiros possuem uma áurea misteriosa muito instigante: você percebe que há algo especial ali que te coloca em um silêncio tanto físico quanto espiritual.
Quando chegamos a Missa estava terminando, mas ainda assim, conseguimos ouvir um pouco do coral das carmelitas, acompanhado por um singelo violino, que, por sinal, nos fazia sentir mais perto do Céu. As carmelitas são doces e carregam o Espírito Santo em sua voz e em sua fisionomia. Elas se isolam do mundo para estarem mais perto de Deus.
Desta vez, eu pude conhecer um lugarzinho dentro do Carmelo chamado “A roda" que é um pequeno quartinho onde existe uma roda na parede que faz com que as Carmelitas e as pessoas aqui de fora possam passar objetos e coisas tanto para lá quanto para cá, sem conseguir enxergar o que se passa dos dois lados. Para quem não sabe, as carmelitas vivem enclausuradas.
Trouxe esta rosa do Carmelo. |
Ao entrar nesse quartinho, enviei uma oração particular por meio de um papelzinho escrito para que elas possam rezar pela minha intenção, assim como minha amiga também o fez. Neste momento, conseguimos conversar com uma carmelita muito querida: não vimos o seu rosto, mas a sua voz tão suave nos acolheu muito gentilmente. Espero poder vê-la no Céu. Ela também nos deu um calendário do Carmelo! Uma querida.
Ainda consegui comprar algumas lembranças na lojinha do Carmelo para pessoas especiais. As carmelitas costuram algumas coisinhas para vender nesta lojinha para poder ajudar nas despesas do Carmelo.
Saindo de lá, fomos ao Mosteiro de São Bento aqui de Brasília já que fica na mesma rua do Carmelo.
Eu também havia ido ao Mosteiro há 6 anos no mesmo dia que fui ao Carmelo pela primeira vez. Já posso dizer que tenho uma tradição de visitar os dois lugares no mesmo dia? Hehe.
O Mosteiro, assim como o Carmelo, fica imerso na mata do cerrado apesar de estar bem perto das casas e do centro de Brasília. Aliás, essa é uma característica aqui da capital: sempre há um pouco de vegetação ao redor dos centros urbanos. Lá, no Mosteiro, escutamos o som dos passarinhos de todos os lugares e a parte da qual temos acesso é muito bonita em toda a sua simplicidade e austeridade.
Penso que se eu morasse perto do Mosteiro, gostaria de ir lá todos os dias para poder rezar. De dentro da Capela, podemos ouvir a natureza tão serena e calma. É um lugar acolhedor.
No Mosteiro, os monges mantêm uma loja incrível: nunca vi uma seleção de livros tão interessante (tirei fotos de vários livros para colocar na minha wishlist!). Lá, os monges vendem itens religiosos dos mais variados tipos; o pão que eles mesmo fazem por lá; chocolates e geleias produzidos em outros Mosteiros e Conventos e por aí vai...
Aprendi que um outro nome para este título é "A Virgem da Paixão". |
Nenhum comentário:
Postar um comentário