Abril de 2023.
Se passou um mês e uns quebrados desde que escrevi a primeira parte deste diário. De lá para cá pouca coisa aconteceu por aqui. Mas em compensação, avancei consideravelmente na leitura. As últimas semanas sem redes sociais geraram bons frutos, um deles foi saber aproveitar as brechas no cotidiano para ler.
Edição da Penguin Companhia. |
Desde então, consegui adentrar mais na leitura, que tem sido, por vezes, fluída e, às vezes, arrastada. Não posso deixar de comentar do sentimento ocasional que surgia em mim durante a leitura de alguns trechos em específico que pareciam intermináveis.
Apesar disto, Homero nos recompensa inúmeras vezes durante a Ilíada. Uma dessas recompensas acontece no Canto VI, quando Heitor se encontra pela última vez com a sua esposa Andromâca.
A despedida de Heitor. |
Confesso que a leitura dessa cena me causou uma agonia e um embrulho no estômago que eu não sentia desde que li o conto “Pai contra mãe”, do Machado de Assis. É um sentimento quase que dilacerador ver Heitor encontrando, mesmo sem saber, a esposa e o seu filhinho Astiánax, pela última vez. Somos conduzidos a sentir uma pena brutal pelo personagem justamente por sabermos do destino cruel que o espera alguns cantos a frente.
Em contrapartida, alguns trechos parecem eternos. As grandes descrições genealógicas dos soldados aqueus e troianos no meio das batalhas tornaram a leitura menos fluida para mim. Digo até que, em alguns momentos, senti vontade de pular algumas partes. De qualquer forma, a minha experiência de leitura tem sido memorável, inesquecível.
Também tem sido interessante compreender a estrutura da mentalidade e da cultura grega que tanto se manifestam na obra. Algo que tem me chamado bastante atenção é a percepção de divindade para os gregos. É estranho e curioso observar que os deuses gregos fogem completamente da nossa concepção cristã do que é divino.
Diversas vezes durante a leitura, nos deparamos com ações muito mais humanas do que divinas por parte dos deuses, seja a predileção por algum mortal, seja a ignorância ou a amargura enrustida que são refletidas nas suas ações, seja a ausência da onipresença por parte deles.
É justamente por essas e outras questões que devemos nos preparar, mesmo que minimamente, para a leitura desses grandes Clássicos. Acredito que o que tenha me ajudado tenha sido a minha leitura do “Livro de Ouro da Mitologia”, como também, a leitura dos textos de introdução à obra.
Agora, estou no Canto XIII, lendo sem pressa e sem previsão de terminar. Continuo fazendo minhas marcações utilizando o sistema color-code para me ajudar, assim consigo fazer pesquisas rápidas caso eu precise.
Definitivamente, ainda não tenho um personagem preferido justamente porque a história e os personagens oscilam muito, o que faz jus à natureza humana que é tão recorrente em todo o enredo. A todo instante somos colocados diante das nossas inconstâncias e fraquezas que são, perfeitamente, refletidas de alguma maneira em cada personagem.
Acredito que seja por este motivo e por vários outros que a Ilíada seja tão próxima de nós: ela é como um espelho do homem em sua mais crua realidade.
Até a próxima!
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