Julho de 2023.
Fico muito feliz quando consigo estabelecer conexões entre as minhas leituras. Quando fiz a minha lista de livros para este ano não considerei essa possível ligação entre as obras, mas foi natural, acabou acontecendo.
O primeiro sermão tratava dos “remédios do amor”, ou seja, fatores que diminuem, consideravelmente, o amor humano, que é frágil e inconstante.
Os rémedios, pois, do amor mais poderosos e eficazes, que até agora tem descoberto a natureza, aprovado a experiência e receitado a arte, são estes quatro: o tempo, a ausência, a ingratidão e, sobretudo, o melhorar de objeto.
Alguns dias depois, iniciei a leitura de Persuasão da Jane Austen. Lá se iniciava mais uma das minhas tentativas de leitura da autora. Este foi o segundo romance dela que consegui finalizar e que, por sinal, tornou-se o meu preferido.
Anne Elliot, a protagonista, tornou-se, sem dúvidas, uma das minhas personagens prediletas de todos os livros que já li. Uma mulher introvertida, de temperamento meláncolico, sempre atenta ao seu exterior, mas nunca longe de si mesma.
A srta. Elliot havia sido pedida em casamento por Frederick Wenthworth oito anos antes da cena inicial do romance. Os dois se amavam profundamente, mas Anne foi persuadida por sua governanta a não se casar com Frederick, pois, na época, ele não tinha condições financeiras compatíveis com a de Anne. Após quase uma década, Wenthwort retorna ao seu antigo ciclo social e reencontra Anne pela primeira vez:
(…) Oito anos, quase oito anos haviam se passado desde que o relacionamento deles terminara. Que absurdo seria retomar a agitação que o tempo deveria ter eliminado! O que oito anos não são capazes de fazer? Eventos de todos os tipos, mudanças, distanciamentos, partidas, tudo, tudo podia estar contido nesse tempo, além do esquecimento do passado… O que é natural e correto também! Significava quase um terço de sua vida.
E o Padre dialoga:
O que era desejo se tornou subitamente em dor, o que era cegueira, em luz; o que era gosto, em lágrimas; e o que era amor, em arrependimento. E se tanto pode um ano, que farão os muitos?
Sabemos que o Amor divino é o único que não sofre os efeitos do tempo, pois vive imortal sobre a esfera da mudança, onde não chegam as jurisdições do tempo, como o Padre Antônio escreve. Mas ele também nos ensina que o amor que é verdadeiro tem obrigação de ser eterno e que se teve um fim, nunca teve sequer um princípio.
O amor humano só pode ousar se considerar Amor se se assemelha ou busca assemelhar-se com o Amor de Deus por nós.
Os sentimentos de Anne e Frederick provavam-se cada vez mais inevitáveis ao longo do romance: “A raiva, o ressentimento, o desejo de evitar sua companhia tinham desaparecido. E foram substituídos não apenas pela amizade e pela consideração, mas também pela ternura do passado. Sim, havia algo da antiga ternura. A mudança não poderia significar outra coisa. Ele deveria amá-la.”
Os livros eternos nos contam verdades eternas. Persuasão nos faz dialogar e refletir profundamente sobre a partipação do amor humano no Amor divino.
Não poderia encerrar esta breve reflexão sem compartilhar a belíssima carta de Frederick à Anne:
I can listen no longer in silence. I must speak to you by such means as are within my reach. You pierce my soul. I am half agony, half hope. Tell me not that I am too late, that such precious feelings are gone for ever. I offer myself to you again with a heart even more your own than when you almost broke it, eight years and a half ago. Dare not say hat man forgets sooner than woman, that his love has an earlier death. I have loved none but you. Unjust I may have been, weak and resentful I have been, but never inconstant. You alone have brought me to Bath. For you alone, I think and plan. Have you not seen this? Can you fail to have understood my wishes? I had not waited even these ten days, could I have read your feelings, as I think you must have penetrated mine. I can hardly write. I am every instant hearing something which overpowers me. You sink your voice, but I can distinguish the tones of that voice when they would be lost on others. Too good, too excellent creature! You do us justice, indeed. You do believe that there is true attachment and constancy among men. Believe it to be most fervent, most undeviating, in
F. W.
I must go, uncertain of my fate; but I shall return hither, or follow your party, as soon as possible. A word, a look, will be enough to decide whether I enter your father’s house this evening or never.
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