sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Diário da leitura: Ilíada, de Homero (parte final).

Julho de 2024.

Os quatro últimos meses por aqui foram de imersão no universo grego. Seja pela leitura da Ilíada, seja por conta dos estudos sobre a Grécia Antiga na faculdade. Os assuntos acabaram coincidindo, mas fico verdadeiramente triste por não poder me aprofundar mais nessas questões por agora.


O meu contato com a Ilíada me introduziu aos grandes clássicos da literatura. A curiosidade em conhecer a narrativa homérica surgiu com a minha leitura do Livro de Ouro da Mitologia, do Thomas Bulfinch. A pequena exposição sobre as duas epopeias homéricas na obra do Bulfinch me causou uma verdadeira vontade de poder conhecê-las e, então, com uma bagagem literária mínima, eu decidi que leria a Ilíada.

Pesquisei pelas edições disponíveis em português e acabei optando pela edição da Penguin com a tradução em versos livres feita pelo Frederico Lourenço. Acredito que a tradução mais fluída, que às vezes se assemelha à prosa, tenha me ajudado muito nesse primeiro contato com uma literatura tão rica e densa (o que, aliás, não deveria ser um impeditivo para ninguém que deseja ler a obra).

Ao contrário do que muitos pensam, a leitura da Ilíada não é difícil, mas desafiadora. Exige esforço e curiosidade.

Esforço porque ela não se revela facilmente e curiosidade porque ela exige que o leitor busque conhecer as entrelinhas.

Por que os deuses interferem tanto na guerra e favorecem alguns e outros não? Estas são algumas das perguntas que certamente exigirão respostas durante a leitura.

A epopeia homérica nos arranca da passividade e nos ensina a ter paciência. Levei 4 meses para finalizar a leitura e, às vezes, parecia interminável. Durante muitos dias me limitei à leitura de duas ou três páginas, o que, com certeza, me ajudou na assimilação da obra.

Essa experiência de leitura foi, com toda certeza, um verdadeiro exercício daquilo que aprendi com Sertillanges em A vida intelectual:

1. É preciso ler pouco:

(…) só lê o que pretende reter, só retém o que lhe deve servir, organiza seu cérebro e não o embrutece com uma carga absurda. (p. 133)

2. Devemos beber nas fontes:

Se observarmos com cuidado, os achados de pensamento são raros: o fundamento antigo, melhor dizendo, o fundamento permanente é o melhor; é nele que temos que nos apoiar para comunicar verdadeiramente com a inteligência do homem, longe das pequenas individualidades balbuciantes ou querelosas. (p.134–135)

Buscar a Verdade contida ali é o que deve nos motivar. Entender este fundamento permanente dos livros eternos deve ser o nosso alvo ao lê-los. Contudo, buscar e entender não basta. É necessário assimilar e, por fim, trazer à realidade.

Afinal, as ideias encontram-se na realidade. A ira de Aquiles e a lamentação de Príamo são o que se não a mais pura manifestação da vida e natureza humana?

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